Deficiência no manejo, pouca ou nenhuma adubação e baixa correção do solo nos pastos brasileiros são problemas frequentemente identificados e longamente estudados pelos pesquisadores. No entanto, os impactos que a falta de controle das plantas daninhas podem trazer para a pecuária nunca foram devidamente investigados. Esta é a opinião de Sidnei Marchi, professor da Universidade Federal de Mato Grosso que estuda as pastagens do Estado desde 1994. “As plantas daninhas sempre foram uma preocupação da área de lavoura, mas nos meus estudos pude comprovar qual prejuízo elas podem causar ao gado”.

 

Um relatório da Embrapa Amazônia Oriental, realizado no Pará em 2006, levanta algumas dificuldades causadas por este que, na região, é o mais sério problema de ordem biológica a ser enfrentado pelos pecuaristas e “um dos mais elevados componentes do custo de produção das fazendas”. Segundo o documento, as plantas invasoras concorrem com as forrageiras por luz e energia. Além disso, os espinhos podem danificar o couro do animal, prejudicando a comercialização. Em caso de ingestão, o gado pode até mesmo acabar envenenado.
 

Para Marchi, no entanto, estas preocupações são muito abstratas ou acadêmicas e pouco colaboram para que a cadeia produtiva tenha a real noção dos estragos. Ao estudar o comportamento do gado no pasto, o pesquisador identificou que presença de plantas urticantes ou com espinhos fazem com que o gado evite pastar a até um metro de distância da invasora, diminuindo a área disponível para pasto. “Involuntariamente, ele não se aproxima daquele componente que causa algum tipo de mal estar para ele”, esclarece.
 

Mais do que isso, em uma relação de competição, as plantas daninhas também diminuem significativamente a qualidade nutricional das forrageiras. Em uma pesquisa inédita no País, Marchi acompanhou durante 120 dias os impactos desta relação. Os resultados completos ele apresenta na palestra ‘Uma nova visão sobre a interferência de plantas daninhas em áreas de pastagens’, durante a 19ª edição da Feicorte, a Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne.
 

“Com 15 dias de convivência da invasora com a forrageira, há uma perda de 20% na produção de massa verde. Com 30 dias, a perda cai para 45% e segue quase que em progressão geométrica”. A queda pode chegar a até 90% a menos de massa verde por hectare, o que implica em um pasto com baixo valor nutritivo e menos fibras digeríveis, diminuindo sua capacidade de suporte. “Com uma pastagem nessas condições, ao invés de engordar um boi em dois anos você vai levar quatro, cinco anos. É como se você se alimentasse apenas de isopor”.
 

Mesmo nestas condições, um pasto assim não é irrecuperável. De acordo com o pesquisador, com até 60 dias de convivência ainda é possível recuperar pastagens quase em sua totalidade. “Se eu retiro o gado do pasto, faço um controle e retorno esse gado após outros 60 dias, a planta recupera o efeito negativo”. No entanto, caso o convívio com a planta daninha seja maior do que 75 dias o procedimento não compensa mais o uso do herbicida. Isso porque a forrageira já vai ter iniciado seu ciclo reprodutivo e não vai mais produzir novas folhas. “Por isso é importante que o produtor tome rapidamente providências contra as invasoras. Quanto mais cedo for a recuperação, melhores os resultados”, finaliza.
 

A Feicorte tem início nesta segunda-feira (17) e segue até sexta-feira (21), no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo. A palestra ‘Uma nova visão sobre a interferência de plantas daninhas em áreas de pastagens’ será na quarta-feira (19), a partir das 14h.

Fonte:Folha cg

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