Novo Plene, da Syngenta, é destinado ao plantio comercial de cana e a expectativa é que comece a ser vendido em 2017
Realizado praticamente da mesma forma como há 500 anos, o plantio de cana-de-açúcar no Brasil vem ganhando espaço na estratégia das empresas de tecnologia para o agronegócio. O foco é abocanhar participação de um mercado estimado em R$ 2,7 bilhões anuais - montante que considera apenas o gasto da região Centro-Sul do país com mudas para renovação de canaviais.
Neste ano, somente o BNDES e a Finep aprovaram recursos via PAISS Agrícola para seis planos de negócios de pesquisa de novas tecnologias para plantio dessa matéria-prima, com desembolso previsto de cerca de R$ 160 milhões.
Por ano, cerca de 1,5 milhão de hectares de cana-de-açúcar são cultivados no Centro-Sul devido à necessidade de renovação - 17% da área total de cana. O problema é que o método tradicional de plantio obriga as usinas a fazerem mudas com a cana que poderia estar sendo processada na fábrica. Com isso, a indústria precisa destinar pelo menos 5% da área de cana para essa finalidade, segundo estimativas do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).
A primeira tentativa de resolver esse gargalo foi apresentada pela multinacional Syngenta em 2010, com o lançamento do Plene. A tecnologia consistia em toletes de 5 cm de cana (no sistema convencional, eram toletes de até 40 cm), oriundos da biofábrica da empresa em Itápolis (SP), que poderiam ser plantados diretamente na área comercial. O produto, considerado uma revolução na época, foi lançado com a promessa de gerar um ganho de produtividade de 5% a 10% aos canaviais.
Apesar de inovador, o produto não deu certo. Em 2011, a companhia já tinha fechado vendas de US$ 350 milhões, em contratos de cinco anos mas, com a performance em xeque, precisou tomar uma decisão difícil: retirar a tecnologia do mercado e levá-la de volta ao ambiente de pesquisa. "O principal obstáculo foi produzir o Plene industrialmente, em grandes volumes", afirma Leandro Amaral, diretor de marketing para cana-de-açúcar da multinacional suíça.
Mesmo não tendo deslanchado, o Plene foi tão inovador que despertou o interesse dos competidores. Cerca de um ano após a retirada do Plene do mercado, mais precisamente em junho de 2013, a Basf lançou sua tecnologia de mudas pré-brotadas (MPBs), o AgMusa - à semelhança do Plene PB, que viria a ser lançado mais tarde pela Syngenta.
Objetivo das empresas é abocanhar participação no mercado de mudas de cana, estimado em R$ 2,7 bilhões anuais
O AgMusa começou a ser desenvolvido cinco anos atrás e rendeu sete patentes à Basf. "Criamos um processo que envolve muda com garantia de sanidade, tratamento fitossanitário e equipamentos específicos para o plantio", explica Antonio Cesar Azenha, gerente do departamento de marketing da unidade de proteção de cultivos da companhia no Brasil.
Por ser uma tecnologia nova e ainda de custo elevado, as mudas pré-brotadas têm, por ora, pouca participação na área de cana do país. Na urgência de avançar nessa frente, as próprias usinas estão desenvolvendo projetos para tornar essas mudas pré-brotadas mais acessíveis, como a Raízen, controlada pela Cosan e pela Shell, que teve seu plano de negócios aprovado pelo PAISS Agrícola.
Muitas pesquisas estão sendo feitas em parceria com multinacionais de sementes. A Odebrecht Agroindustrial, braço sucroalcooleiro da Organizações Odebrecht, escolheu a tecnologia da Basf para ampliar o leque de variedades cultivadas no Centro-Oeste.
Atualmente, a Odebrecht Agro gerencia uma área própria de 400 mil hectares de cana-de-açúcar, praticamente uma Grande São Paulo de cana. A tecnologia de MBP em si já existe, explica Américo Ferraz, responsável pela área agrícola da companhia. O que o projeto traz de inovador é o compartilhamento da produção dessas mudas pré-brotadas, cujo custo ainda é considerado elevado. "Implantar um viveiro com MPB custa de R$ 10 mil a R$ 13 mil por hectare. Com o compartilhamento, esse custo será reduzido a R$ 7,5 mil ou R$ 8 mil", compara.
Em torno de 70% dos canaviais da Odebrecht Agro no Centro-Oeste estão concentrados em três variedades de cana, quando o recomendado é que uma variedade não ocupe mais do que 10% a 15%, explica Ferraz. Para esse "equilíbrio varietal", a empresa pretende, em quatro anos, investir R$ 48 milhões, com financiamento do BNDES e da Finep, no cultivo anual de 500 hectares de mudas.
A tecnologia de mudas pré-brotadas da Basf, chamada de AgMusa, envolve equipamentos específicos para o plantio
Em seus viveiros em Santo Antônio de Posse (SP), a Basf multiplica variedades de cana concebidas por parceiros, como CTC e Ridesa (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético), e então extrai a matéria-prima (gema), que gera as mudas. Conforme Azenha, no sistema convencional são necessárias 20 toneladas de cana para plantar um hectare, número que cai para menos de duas toneladas (ou 13 mil mudas) com o AgMusa. O ganho de produtividade pode ficar entre 20% e 40%, diz o executivo. "Obviamente, o atual momento do setor limita investimentos, mas temos sentido alta receptibilidade".
Mas a rival Syngenta também entrou agressivamente nessa disputa. No fim de 2013, lançou produtos destinados à formação de viveiros: o Plene Evolve e o PB - este também direcionado ao preenchimento de falhas nos canaviais. Mas foi apenas em julho que a companhia acenou com um substituto para o primeiro Plene, anunciado seis anos atrás.
Para solucionar os entraves do passado, o novo Plene (que como seu predecessor é destinado ao plantio comercial) aposta em uma tecnologia desenvolvida com a canadense New Energy Farms para ganhar potencial de escala. Contudo, a comercialização do novo produto terá início somente em 2017. "A tecnologia já foi testada com sucesso em canaviais na Flórida [EUA]. Agora, vamos adaptá-la às variedades do Brasil", diz Amaral.
A expectativa da Syngenta é que o Plene reduza o custo da tonelada produzida de 10% a 15%, em função da simplificação do maquinário, dos benefícios agronômicos em usar mudas vindas de sua biofábrica (que usa até iluminação LED para acelerar a produção dos materiais) e da destinação da área de viveiros à produção comercial. "O setor precisa de 350 mil hectares de viveiros, e a devolução dessa área para as usinas tem potencial para gerar receita adicional de R$ 1,6 bilhão por ano ao setor", acrescenta o executivo.
Ele diz que o mercado reconhece o pioneirismo da Syngenta em um movimento inovador e, por isso, a concorrência não é vista de forma negativa. "Todos que buscam melhorias para a cana vão ajudar a deixar o setor mais rentável. Todo mundo se beneficiará disso", afirma.
Fonte
CNA-SENAR
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