Jovens estão influenciando mais nas compras de máquinas agrícolas

Jovens estão influenciando mais nas compras de máquinas agrícolas Stéfanie Telles/Especial

Os irmãos Vitor, 19 anos, e Fabiana, 32 anos, criaram no aplicativo WhatsApp um grupo familiar para trocar ideias sobre os negóciosFoto: Stéfanie Telles / Especial

Eles sabem exatamente o que buscam, são ávidos por tecnologia e não têm medo de experimentar novidades. Na hora de escolher um produto, fazem as contas para tentar reduzir custos e alcançar maior rendimento nas lavouras. Jovens que apostam o seu futuro na agricultura têm voz ativa na tomada de decisões nas propriedades da família e fazem com que o mercado rejuvenesça suas estratégias.

— O jovem tem muita informação, e a escolha dos equipamentos é uma decisão que passa pela produtividade. Por isso, uma venda técnica é cada vez mais importante — destaca Milton Rego, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Circular pela Expodireto Cotrijal torna visível o papel dos jovens nas propriedades rurais. Eles chegam em caravanas de amigos em Não-Me-Toque ou com familiares e visitam estandes de máquinas e de sementes, buscam informações e comparam os produtos.

— Esse é um fenômeno positivo. O jovem está assumindo seu posto na propriedade, participando efetivamente das decisões — aponta o vice-presidente da Cotrijal, Ênio Schroeder, acrescentando que o público da feira é cada vez mais jovem.

Em busca de um pulverizador, Airton Vargas, 55 anos, levou o filho Renan, 25 anos, para ajudar na escolha.

— Até porque eu é que vou operar a máquina na lavoura — diz o filho, formado em Direito, e que divide a gestão da propriedade em Santiago com o pai e o irmão, Ricardo, 27 anos.

Envolvidos na gestão e no cultivo de 3 mil hectares de grãos em Chapada e em Jaguarão, os irmãos Fabiana,32 anos, e Vitor Linck, 19 anos, conseguiram fazer com que o pai, Aloísio Linck, 62 anos, trocasse a marca de máquinas usada durante décadas.

— Comprávamos equipamentos sempre da mesma fabricante. Começamos a pressionar para mudar porque tínhamos muitos problemas — lembra Fabiana, que opera desde tratores até colheitadeiras nas lavouras, apesar de se formada em Psicologia.

Revendas se adaptam para falar com filhos dos donos

Com ideias convergentes, os dois irmãos participam de toda a gestão dos negócios. Por meio de um grupo criado no aplicativo WhatsApp, a família troca mensagens durante todo o dia para dividir as decisões — que vão da aplicação de defensivos até a compra de insumos.

— Dividimos todas as escolhas. Não se pode mais fazer de qualquer jeito, pois o lucro é mínimo e não deixa margem para erros — afirma Fabiana.

Ao detectar maior influência dos jovens sobre as decisões familiares, o que reduziu a fidelização a marcas, revendas de máquinas agrícolas renovaram suas equipes para se aproximar da nova geração que assume os negócios no campo.

— Vendedores com menos idade usam a mesma linguagem dos jovens, que têm uma predisposição enorme para apostar em novas tecnologias — destaca o diretor comercial da Case IH no Brasil, Cesar di Luca.

Representante comercial da revenda Meta na região de Tapejara, o agrônomo Aramis Biazotto, 27 anos, tem a ajuda dos filhos dos produtores na hora de apresentar um produto novo ao cliente.

— A abordagem é diferente. Enquanto o pai e o avô ficam receosos diante de novidades, jovens não veem a hora de experimentar — observa Aramis.

A maior abertura dos jovens a marcas menos conhecidas facilitou a entrada de empresas asiáticas no mercado brasileiro, como a fabricante sul-coreana de tratores LS Tractor. Segundo André Rorato, diretor comercial da marca no Brasil, a venda de 700 unidades desde agosto do ano passado, foi influenciada, em grande parte, por jovens. Para entrar no país, a empresa usou a mesma estratégia das fabricantes de carro chinesas e sul-coreanas: oferecer máquinas completas com motores de menor potência e garantia estendida.

Eles são os consultores do pai

Foto: Stéfanie Telles, Especial 

 

Em processo de amadurecimento e esforço para que os filhos busquem conhecimento e retornem ao campo, pais conduzem a sucessão rural com redução de conflitos entre as gerações. Dividir as decisões e compartilhar lucros da propriedade com os jovens são considerados pontos fundamentais para a transferência de comando.

Formado em Administração, Henrique Falcão, 27 anos, trabalha na empresa de multiplicação de sementes da família desde os 17 anos. Hoje, ao lado da irmã Fernanda Falcão, 32 anos, engenheira agrônoma, toma conta de boa parte dos negócios.

— Decisões importantes o meu pai (Humberto Falcão) não toma sem falar conosco antes. E se fizer, leva puxão de orelha — brinca Henrique, gerente de vendas da Sementes Falcão.

Enquanto o irmão cuida da parte comercial e faz o gerenciamento de custos da empresa fundada em 1986, Fernanda é responsável técnica pela produção de sementes em uma área de 700 hectares em Sarandi.

— Acompanho o planejamento do cultivo, escolho as variedades e cuido de toda a documentação necessária para fazer a multiplicação das sementes. Tem de ser muito profissional para ter lucro — resume Fernanda, que junto com o irmão passou a receber participação nos lucros da empresa.

Ajuda e pitacos nas férias e nos fins de semana

Foto: Stéfanie Telles, Especial

 

Em cima de tratores e colheitadeiras desde os 10 anos, Igor Buligon aprendeu na prática como produzir grãos na lavoura da família, em Júlio de Castilhos. Hoje, aos 18 anos, o estudante do terceiro semestre de Agronomia aprende a teoria que resulta em produtividade e eficiência.

— Sempre ajudei manualmente. Sabia fazer, mas não tinhas as explicações — diz o jovem, que conhece em detalhes todas as máquinas da propriedade.

Nos fins de semana e nas férias, o estudante dá seus pitacos ao pai Gilso Buligon e ao tio Éderson Buligon, sócios na propriedade de 2,4 mil hectares.

— Quando eles vão comprar alguma máquina, recomendo que escolham uma de maior capacidade. Se quiserem ampliar a área, já terão equipamento para isso — contou o jovem, enquanto olhava na Expodireto um modelo de trator equipado com mais recursos e conforto do que os utilizados na propriedade da família.

Além da rentabilidade para compensar o trabalho, a nova geração dá prioridade à eficiência e ao conforto.

— Os jovens querem uma operação eficiente, que passa pela comodidade do piloto automático até os resultados alcançados com a agricultura de precisão — explica Rodrigo Junqueira, diretor de vendas da John Deere no Brasil.

Conforme o executivo, o agricultor jovem não se contenta mais em ter um escritório dentro da máquina, com computador a bordo e resultados isolados.

— Ele quer acompanhar tudo de dentro do escritório, com informações em tempo real dos equipamentos e soluções integradas — completa Junqueira.

Fonte

Zero Hora

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