Evaldo Vilela é professor titular da Universidade Federal de Viçosa, presidente da Fapemig e membro da Academia Brasileira de Ciências.
Campos de atuação: Ecologia Química, Entomologia, Gestão de Ciência e Tecnologia.
A Ciência no Brasil se consolidou nos últimos anos em um patamar muito bom em relação ao mundo. Ganhou e vem ganhando maior relevância na geração de conhecimentos novos, com um crescimento consistente dos grupos de excelência em pesquisa de classe internacional. Passamos a formar um expressivo número de jovens doutores talentosos, saídos de uma pós-graduação que cresceu muito, com qualidade e expressão em muitas áreas do conhecimento. Das agrárias à saúde, das exatas às humanidades temos avançado muito, também em áreas tecnológicas como na computação, engenharias e outras. Tudo isto graças a políticas públicas acertadas e investimentos crescentes desde a década de 1970. Poderíamos estar melhores, claro, se o fluxo dos recursos não tivesse sofrido interrupções em determinados períodos. Em tempos de corte no orçamento, inexplicavelmente, a C&T e a pesquisa e desenvolvimento são os que primeiro e mais sofrem. Na Inglaterra, nas crises, os recursos para C&T são aumentados, para alimentar a saída da crise!
“Necessitamos sair dos “cases”, ou seja, aumentar o volume e a velocidade das inovações, tanto para o mercado brasileiro como para o internacional. “
Sem financiamento público permanente e adequado não é possível ter um sistema nacional de CT&I capaz de assumir seu papel absolutamente estratégico para a soberania do país e para a geração de bem estar para sua população. O presente período de dificuldade financeira e política que atravessamos, com descontinuidade nos repasses dos recursos federais para a área e para as instituições de C&T, é uma ameaça que nos leva a refletir sobre o futuro, já que os danos podem ser irreparáveis. Neste cenário, as Fundações de Amparo dos Estados – as FAPs – têm um papel extraordinário no funcionamento do sistema, particularmente nas pesquisas de excelência, nas redes de pesquisa multidisciplinares e na formação de talentos, todos indispensáveis.
Do conhecimento geramos tecnologias que melhoram a produção e a competitividade da indústria. Nosso agronegócio é um dos mais evoluídos, graças às tecnologias desenvolvidas nas universidades de pesquisa, como as de Lavras e Viçosa, e na EPAMIG e Embrapa. Sabemos fazer C&T, pesquisa e desenvolvimento, e o país produz inovações nas empresas. No entanto, necessitamos sair dos “cases”, ou seja, aumentar o volume e a velocidade das inovações, tanto para o mercado brasileiro como para o internacional.
Assim, não podemos interromper os investimentos em pesquisa e formação de pessoas qualificadas. Além disso, devemos construir mais ambientes de inovação, ambientes de co-working e ambientes onde estudantes, pesquisadores, empresários e representantes de órgãos de governo possam se conhecer melhor, compreender suas necessidades e quais mecanismos de apoio têm a oferecer. Os ambientes de inovação, para os quais o SIMI tem contribuído muito em Minas Gerais por cerca de dez anos, são infraestruturas caracterizadas pela ausência de preconceitos e de hierarquias, verdadeiros espaços abertos a pessoas talentosas e capazes de sonhar com realizações.
A natureza tipicamente multidisciplinar e de conhecimento horizontalizado destes ambientes permite não apenas o avanço progressivo em pequenas e repetidas interações coletivas, mas, também, a construção de um processo de desenvolvimento tecnológico e de inovação duradouro. Isto se deve ao resgate constante de ideias anteriores por indivíduos e grupos que agregam conceitos, maneiras de pensar e processos inovadores ao trabalho que nestes ambientes se desenvolvem, pautando caminhos para pesquisadores e empreendedores futuros. Esta noção fica bastante explícita se observarmos a história da ciência, tecnologia e inovação: a “revolução digital”, por exemplo, conforme explicada por Walter Isaacson em seu livro “Os Inovadores: Uma Biografia da Revolução Digital”, deu-se principalmente pelo esforço coletivo de diversas pessoas, cada uma com sua respectiva especialidade, ao longo de vários anos e conduzindo progressivamente às tecnologias digitais que hoje se utilizam corriqueiramente pela população mundial. O professor José Luiz Braga, da Universidade Federal de Viçosa, recomenda e comenta este mesmo livro em seu blog, oferecendo insights e observações. O SIMI, por sua vez, tem tudo a ver com a promoção dos ambientes de CT&I, e tem desempenhado um importante papel neste sentido.
Por último, mas igualmente importante, é a necessidade de um esforço maior de difusão do conhecimento cientifico e tecnológico, e da inovação, para a sociedade em geral. Os cientistas devem contribuir e investir na renovação da cultura científica do brasileiro, para que ele compreenda melhor o papel e os benefícios da Ciência, da Tecnologia e da Inovação no mundo globalizado. E devemos acreditar mais na capacidade dos cientistas mineiros e brasileiros na transformação da vida para melhor. Mais renda e empregos como frutos da pesquisa, do desenvolvimento cientifico e tecnológico. Priorizando o conhecimento estaremos priorizando o futuro!
Foto: UFV/Divulgação
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