Quando se fala no desenvolvimento de energia no Brasil, o município de Candeias (BA), situado a cerca de 40 quilômetros de Salvador, tem seu nome na história. Foi nessa cidade que jorrou petróleo pela primeira vez no país em nível comercial, fato que ficou consagrado com a foto do então presidente Getúlio Vargas com a mão direita suja de petróleo, em visita feita ao lugar em junho de 1952 (veja abaixo).
Mais de 60 anos depois do episódio, no dia 26 de março de 2014, foi inaugurada uma planta de cogeração de vapor e energia gerados a partir da biomassa de eucalipto. O projeto das empresas Energias Renováveis do Brasil (ERB) e Dow Brasil é pioneiro no setor petroquímico -- e busca abastecer a unidade da Dow em Candeias com energia limpa, substituindo parte do gás natural produzido atualmente. Em vez do "ouro negro" vislumbrado por Getúlio, a cidade baiana pode agora estar diante de um futuro "ouro verde".
O investimento de aproximadamente R$ 265 milhões é responsável pela geração de 1,3 mil empregos diretos e 3,4 mil indiretos, nas áreas industrial e florestal. "Este modelo de negócio viabiliza a geração de energia e vapor industrial em um ambiente de desenvolvimento sustentável", destaca Paulo Vasconcellos, diretor-executivo da ERB.
Com o projeto, a Dow substitui 150 mil metros cúbicos diários de gás natural. A unidade tem capacidade para produção anual de 1,08 milhão de toneladas de vapor industrial e 108 mil MWh de energia elétrica. Serão substituídos 83 milhões de metros cúbicos de gás natural, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.
Estima-se que 169 mil toneladas de dióxido de carbono deixarão de ser lançadas na atmosfera anualmente, representando uma redução de 33%.
Projeto pioneiro
ERB e Dow estabeleceram contrato de 18 anos para fornecimento de vapor e energia. O projeto, que utilizará biomassa de eucalipto de reflorestamento (florestas plantadas para este fim), consumirá 10,4 mil hectares da madeira, originária de fazendas próprias da ERB e de parcerias que a empresa estabeleceu com produtores rurais de municípios do litoral norte da Bahia.
"Vale ressaltar que esse é um projeto pioneiro, de grande escala, no qual empregamos tecnologia de última geração com o que há de mais moderno e inovador", afirma Emílio Rietmann, presidente da ERB. Na mesma linha, o secretário estadual da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia, lembra que a Bahia já possui um bom espaço para a fonte eólica, além de setores como o sucroalcooleiro e o da celulose, mas faltava um projeto de biomassa. "Entusiasma o governo porque é inovador e tem grande dimensão."
De acordo com Rodrigo Silveira, diretor de operações do complexo da Dow em Aratu, o projeto contribui para o aumento da competitividade do complexo industrial e está alinhado com as metas de sustentabilidade da companhia, pois aumenta a participação de matrizes energéticas renováveis no processo produtivo. "Além disso, desde a etapa de construção da usina, mantemos o diálogo permanente com os líderes comunitários e conseguimos, assim, criar oportunidades de trabalho para os moradores de localidades próximas ao Complexo da Dow. Durante as obras foram gerados mais de 200 empregos para a comunidade de Candeias e região", conclui o executivo.
Matriz diversificada
O presidente da Dow na América Latina, Pedro Suarez, lembra que o Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo (sobretudo hidráulica), mas que é preciso diversificá-la, a fim de evitar problemas como a atual crise do setor. "Estamos celebrando hoje um compromisso sustentável. É preciso diversificar as fontes de forma competitiva", defendeu o executivo.
Para Rietmann, os 12,5 MW que a planta de Candeias produzirá não resolverão o problema do país, mas por se tratar de um projeto pioneiro de energia renovável, poderá estimular o desenvolvimento de empreendimentos semelhantes, com foco na biomassa. "O país tem uma grande quantidade de áreas de pastagem degradadas [180 milhões de hectares], que poderiam virar biomassa. Não é preciso degradar nada. A oportunidade é agora", ressalta.
Emissões do transporte
Ao ser questionado sobre o transporte do eucalipto, que virá da região do litoral norte baiano até a fábrica de Candeias (cerca de 120 quilômetros), Rietmann adianta que a ERB tem o plano de diminuir a distância das plantações para a usina em 80 quilômetros nos próximos anos, por meio do arrendamento ou compra de terrenos mais próximos.
A concepção original do projeto contava com a linha férrea passando pelas fazendas da empresa e seguindo até a planta para despejar as toras, mas esse trecho encontra-se inoperante, devido a problemas referentes a concessionária. Com isso, os caminhões (mais poluentes do que os trens) tendem a ser usados. "Também estamos secando a madeira mais dias no campo, com isso a umidade dela cai de 60% para 20%, então eu transporto menos peso, o que significa menos viagens, água e o volume de emissões", completa o presidente da ERB.
A energia gerada pela planta de Candeias será destinada à rede de distribuição. Uma vez terminada a fase de testes, a nova fábrica tem previsão de começar a operar a partir do dia 4 de abril.
FONTE
EcoD
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