O desenvolvimento de biocombustíveis é uma das áreas do conhecimento em que o Brasil está na vanguarda. Pioneiro neste campo, o País tem o programa mais avançado do mundo e avança para a produção de etanol de segunda geração. Entretanto, mesmo neste cenário, ainda há detalhes que limitam uma maior produtividade do combustível oriundo de origem biológica.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vem investindo em uma forma diferente para aumentar a eficiência da produção do etanol. A unidade de pesquisa de biocombustíveis, a Embrapa Agroenergia (DF), busca reduzir as perdas geradas por microorganismos.
Em trabalho conjunto com a Universidade Católica de Brasília(UCB), a unidade desenvolveu um estudo com duas novidades principais. Uma delas é que, pela primeira vez, foram identificadas arqueias em uma usina sucroenergética. Estes seres vivos só foram recentemente agregados ao conhecimento científico. A outra novidade é o uso de técnicas de busca de fungos e bactérias a partir do DNA.
O método tradicional é o de cultivar amostras de microorganismos em um determinado ambiente, à espera de que fungos e bactérias se proliferem e, então, sejam identificadas. Só que apenas 1% dos microorganismos podem ser cultivados em laboratório. Com o método metagenômico utilizado pela Embrapa, é possível extrair o DNA das amostras sem necessidade de cultivo em meio sintético, de forma que os cientistas conseguem explorar os 99% de microorganismos que não são identificados pelos métodos clássicos.
Os microorganismos não comprometem a qualidade do etanol, nem a presença deles no ambiente de produção representa risco. Pelo contrário. Segundo a pesquisadora Betania Ferraz Quirino, da Embrapa Agroenergia, espera-se que estes seres vivos microscópicos existam em qualquer lugar não esterilizado. E eles podem reduzir o volume de produção.
Como o etanol também é gerado por um microorganismo – no caso a levedura Saccaromyces cerevisiae -, o processo acaba por perder uma fatia da produção, por conta de outros seres vivos converterem uma parcela da cana de açúcar em outros produtos que não o biocombustível. Parte deles pode produzir ácidos orgânicos que inibem a atividade metabólica da levedura, comprometendo o funcionamento dos equipamentos da indústria, exigindo paradas do maquinário para limpeza. Assim, o processo de produção fica encarecido e os equipamentos podem se danificar.
Os pesquisadores da Embrapa analisaram diferentes etapas em busca de traços de seres vivos microscópicos. Os resultados apontaram presença de fungos e arqueias nas etapas iniciais do processo de produção do etanol: o caldo e a mistura de caldos. Ainda assim, o estudo não descarta a presença deles nas fases seguintes da produção.
As principais sequências de DNA de fungos encontradas são de espécies ainda não classificadas, o que sugere a presença de uma grande diversidade de microorganismos, ao contrário do que apontam os estudos baseados apenas em métodos de cultivo. Quanto às arqueias, grande parte do material encontrado pertence ao filo Thaumarcaeota, o mais abundante da Terra.
A pesquisadora Betania conclui que este experimento encontrou uma diversidade microbiana na indústria de etanol mais do que a conhecida até então. Mas ela ressalta que este é um espaço para muitas outras descobertas. Boa parte dos microorganismos encontrados ainda não foram classificados pela ciência e é possível que existam arqueias e fungos nos estágios mais avançados de produção que não puderam ser detectados até agora.
FONTE