De forma muito tímida, a política climática parece estar ganhando uma nova imagem, não somente negra, sombria e devastadora. Em algum lugar, lá no horizonte, avista-se uma fresta de esperança. Essa é a conclusão da análise da organização ambientalista alemã Germanwatch, que habitualmente só se manifesta para protestar.

"As emissões de CO2 estão crescendo mais lentamente do que nos anos anteriores, e as energias renováveis estão em ascensão forte no mundo todo", ressaltou Jan Burck, em entrevista à Deutsche Welle. Ele é o autor do Índice de Proteção do Clima, divulgado na 20ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 20), em Lima, no Peru.

O indicador -- realizado anualmente pela ONG em parceria com a rede de entidades ambientalistas Clima Action Network Europe --, analisa 58 países e estabelece um ranking. No topo da lista estão aqueles que realmente se esforçam para proteger o clima, podendo gabar-se em Lima de seus bons resultados. E esse é justamente um dos objetivos da Germanwatch.

"Também estamos tentando incentivar um tipo de competição aqui", revela Burck. "Mesmo em discursos ministeriais na Conferência do Clima, o índice é sempre citado e dizem, por exemplo: Olhem aqui, nós fazemos melhor que vocês".

Brasil tem desempenho "muito ruim"

O Brasil teve seu desempenho classificado como "muito ruim", aparecendo no 49° lugar da listagem, uma queda de 14 posições em relação a 2013, colocando-o abaixo da Argentina -- mas ainda acima de países como Japão, Coreia do Sul, Rússia, Canadá e Austrália. De acordo com a Germanwatch, no entanto, há sinais de que o Brasil "conseguiu reduzir o desmatamento significativamente" desde 2010, fato que pode contribuir para melhorar seu desempenho na próxima edição do índice.

Três países europeus podem se orgulhar em especial de seus bons resultados: a Dinamarca, Suécia e Reino Unido ocupam os lugares quatro a seis. As três primeiras posições permaneceram vazias nesta décima edição do ranking: de acordo com a Germanwatch, nenhum país tem feito o suficiente para evitar alterações climáticas perigosas.

Ainda assim a ONG está otimista de que isso possa ser diferente no próximo ano: a Dinamarca e a Suécia conseguiram pela primeira vez cumprir manter seu programa para a "meta dos dois graus". Esta prevê a limitação do aquecimento global a menos de 2º C em relação à temperatura no começo da industrialização.

"A Dinamarca conseguiu reduzir suas emissões bem fortemente", frisa Burck, acrescentando que um fator decisivo foram as políticas ambiciosas do país para as energias renováveis. Assim, os dinamarqueses são considerados um bom exemplo da implementação ampla de metas de proteção climática num país industrializado.

Arábia Saudita e Austrália: maus exemplos

Por outro lado, a colocação entre os dez primeiros de uma nação em desenvolvimento como o Marrocos é uma surpresa. "O país se destaca pelos investimentos em energias renováveis, especialmente em energia solar", diz o autor do estudo. "Marrocos pode conseguir pular a etapa do desenvolvimento clássico -- normalmente associada a combustíveis fósseis -- e talvez adotar uma forma sustentável de abastecimento energético."

Mas o índice também revela quem atualmente pouco se importa com a mudança climática. Na lanterna, em 61ª posição, está a Arábia Saudita, cujo nível de emissão segue elevado. Apenas um ponto acima está a Austrália. O país caiu 21 posições em comparação ao ano anterior, sobretudo devido à má pontuação de suas medidas de política climática, que foram significativamente restringidas sob o governo de Tony Abbott.

Mas também a Alemanha aparece este ano apenas num lugar intermediário da lista. "O balanço alemão tem sido prejudicado pelo chamado dilema da transição energética -- o forte aumento do uso do carvão mineral paralelamente à ampliação das energias renováveis." Caso esse problema seja resolvido, o país tem boas chances de subir novamente no ranking mundial de proteção climática, nos próximos anos, avalia Jan Burck.

FONTE

Deutsche Welle
Clara Walther - Edição

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