Pesquisadores de oito países buscam respostas para as alterações climáticas, com base em dados coletados no Atlântico Sul. Até 28 de julho de 2013, eles navegam do Brasil à Namíbia (África), para entender os reflexos do aquecimento global na dinâmica dos oceanos e as consequências para os continentes. A pesquisa envolve 24 cientistas e é comandada pelo Centro de Pesquisa Oceanográfica GEOMAR Helmholtz de Kiel, na Alemanha.
O navio oceanográfico Meteor M98 ficou atracado em Fortaleza, no Ceará, onde foi visitado por pesquisadores e estudantes no final de junho. Em seguida, ele partiu em direção a Walvis Bay, no continente africano. O objetivo da expedição é estudar a circulação marítima do Atlântico Sul, com foco nas correntes de contorno que passam ao norte do Brasil e ao sul de Angola.
O coordenador científico da expedição, Peter Brandt, explica que estas correntes são mais fortes do que o fluxo no interior do mar, tipicamente lento. "Elas são bons indicadores da mudança de circulação do oceano e da variabilidade climática. Quase todas as massas de água e calor que participam da troca inter-hemisférica passam ao longo da plataforma do Brasil, e isso torna a região especialmente interessante", destaca Brandt.
Segundo o cientista, o Oceano Atlântico desempenha importante papel na troca de massas de água entre os hemisférios Norte e Sul. As massas de água quente formadas no Atlântico Sul são transportadas através do Equador para suprir as correntes da Flórida e do Atlântico Norte, que aquece a Europa.
Outro grupo de pesquisa que integra o cruzeiro se concentra no estudo da troca de diferentes gases, como dióxido de carbono (CO2) e óxido nitroso (N2O), entre o oceano e a atmosfera. Segundo Brandt, essa transferência possui "alguma relevância para a produtividade no oceano".
Influências no climaEnquanto atravessam o Atlântico Sul, os pesquisadores instalam sensores para registrar dados como temperatura, velocidade das correntes e salinidade da água. Os equipamentos devem coletar informações até maio de 2014, quando um novo cruzeiro irá retirar os sensores da água. Brandt acredita que devem ser feitos pelo menos outros cinco cruzeiros até 2016 -- nos moldes de expedições realizadas entre 2000 e 2004.
Os dados que estão sendo coletados este ano serão comparados com as informações levantadas no passado. Desta forma, será possível estimar os impactos gerados e as possíveis consequências das mudanças climáticas para a vida marinha e o clima. "Poderemos também determinar quantidades de água doce e calor ao longo da rota, que são parâmetros importantes para determinar o clima tropical", descreve o coordenador da equipe, no primeiro relatório da expedição.
De acordo com a projeção dos pesquisadores, a circulação das correntes marítimas entre os hemisférios pode diminuir por causa do aquecimento global, trazendo consequências para o continente europeu. Também pode atingir de forma semelhante -- ou com maior impacto -- a distribuição de água quente nos trópicos e gerar mudanças na incidência de vento e chuva nos países costeiros.
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