Experimentos de acidificação dos oceanos nos processos biogeoquímicos em sedimentos costeiros foram realizados no Brasil de forma pioneira. A proposta da doutora do Instituto de Oceanografia (IO) da Universidade de São Paulo (USP), Betina Galerani Rodrigues Alves, teve o objetivo de quantificar tanto as taxas de remineralização da matéria orgânica e fluxos de nutrientes na interface água-sedimento, como as alterações nessas taxas em resposta a diferentes cenários de acidificação dos oceanos. A análise revelou resultados importantes e ainda desconhecidos sobre os processos biogeoquímicos dos sedimentos costeiros, e ainda mostrou os efeitos da acidificação nessa mesma região.


Para realizar os testes, foram realizados experimentos em laboratório, e no oceano utilizando incubação bêntica in situ, ferramenta comumente para estudar procedimentos biogequímicos na interface costeira. As amostras analisadas são da área rasa de Ubatuba, uma região com 6 a 8 metros de profundidade, enquanto que para o experimento in situ, Betina desenvolveu um equipamento especial para as águas rasas, e que pudesse ser submerso por mergulho, não automação. 

"Na área costeira, o uso da incubação bêntica in situ sempre foi um desafio por causa da baixa profundidade. As câmaras utilizadas possuem motor, e alguns elementos da área costeira impedem sua permanência ali. Além disso, o mergulho autônomo sempre foi um obstáculo para esse tipo de experimento", completa a doutora. Os dois experimentos obtiveram resultados muito semelhantes, com diferença apenas quanto à acidificação de compostos nitrogenados.

Acidificação e riscos

O estudo apontou que a região marítima estudada não é rica em produção de nutrientes, e possui tendência à nitrificação, um processo químico-biológico de formação de nitrito no solo em conjunto a bactérias quimiossintetizantes nitrificantes. Alto consumo de oxigênio e fluxos positivos de amônio também foram encontrados nos sedimentos, e pôde se apreender que a degradação da matéria orgânica prevalece sobre os processos autotróficos. Dos resultados, foi possível concluir que três processos bioquímicos acontecem na área: remineralização bêntica mediada pela biota bacteriana, excreção de organismos bênticos e fluxos difusivos de solutos do sedimento para a coluna dágua.

Quanto a acidificação marinha, os testes realizados apontam que a diminuição do pH altera os processos de remineralização do carbono orgânico nos sedimentos costeiros, gerando um aumento que varia de 10% a 50% nas taxas dessa remineralização. "Isso gera um aumento da degradação da matéria orgânica que chega em sedimentos marinhos, e ainda não sabemos o que isso pode trazer como consequência. Talvez isso possa interferir na qualidade da matéria orgânica encontrada nos sedimentos", afirma Betina. 

FONTE

Agência Universitária de Notícias
Stella Correia Bonici - Jornalista

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