A semente de soja com gene tolerante à seca poderá estar disponível no mercado em cinco anos. A previsão foi feita no dia 19 de fevereiro de 2014 pelo professor Márcio Alves Ferreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em palestra apresentada noCentro de Estudos e Debates Estratégicos(Cedes) da Câmara dos Deputados. Após os estudos realizados em laboratório, as plantas deverão ser testadas em campo e, depois, dependerão de liberação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para sua comercialização.

Ferreira é responsável pelas pesquisas do projeto Genosoja, que pretende viabilizar o cultivo de soja em áreas com escassez de água, como as regiões do semiárido. O pesquisador demonstrou como pode ser possível, por meio da biotecnologia, a transferência dos genes do café tolerantes à seca para outras espécies cultivares, como o algodão, a cana de açúcar, o feijão, o arroz e a soja. Ele ressaltou que a previsão da disponibilidade de cinco anos para o mercado vale apenas para a soja, cujos estudos estão mais avançados.

Segundo o professor, a tolerância da soja à seca vai ampliar as fronteiras agrícolas e viabilizar terras não utilizadas, ou subutilizadas, por causa da falta dágua. "A soja poderá ser cultivada em outras regiões, além do Centro-Sul", afirmou.

De acordo com o pesquisador, em uma situação adversa, com redução de 50% da quantidade de água, a planta pode crescer sem prejuízo de suas qualidades funcionais, como se estivesse em condições normais. Para Ferreira, o gene tolerante à seca poderá ser inserido futuramente em qualquer espécie, como em hortaliças.

Histórico da pesquisa

Márcio Ferreira apresentou o projeto original que descobriu um gene tolerante à seca presente no café, protegendo a planta contra a falta dágua. O trabalho gerou o registro de uma patente pela UFRJ e pelaEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e a pesquisa agora está sendo utilizada para a obtenção de outras espécies cultivares tolerantes à seca a partir da manipulação genética.

Segundo o professor, a seca é um dos principais problemas que a agricultura enfrenta, podendo levar a uma redução de até 80% de sua produção em áreas não irrigadas. "Hoje, 70% de toda água utilizada pela humanidade é destinada para a agricultura, e 40% de todo o alimento obtido é dependente de irrigação. O aquecimento global irá desencadear eventos mais extremos de seca e a biotecnologia vegetal pode ser a solução para diminuir as perdas na agricultura", afirmou o pesquisador.

Benefícios 

Para o presidente do Cedes, deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), a comercialização dessas espécies cultivares vai trazer mais rentabilidade para o agronegócio e para a agricultura familiar. "O fundamental dessa pesquisa é permitir que aquele agricultor do semiárido possa ficar no local onde vive, sem precisar migrar ou fugir para a cidade para viver em situação social precária", afirmou.

O parlamentar defendeu que o semiárido tenha acesso aos benefícios das espécies modificadas geneticamente o quanto antes. Oliveira disse que o Cedes dará continuidade aos estudos sobre a convivência do homem com a seca.

Cedes

Centro de Estudos e Debates Estratégicos é um fórum de debates que subsidia a formulação de leis e auxilia os parlamentares no trato de matérias do processo legislativo, de interesse da Casa ou de suas comissões. Entre os últimos estudos desenvolvidos pelo Cedes estão: Minerais Estratégicos e Terras-Raras; Instrumentos de Gestão das Águas; Mobilidade Urbana; e Capital Empreendedor.

FONTE

Agência Câmara

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