O solo que antes não produzia quase nada garante, hoje, além da comida dentro de casa, a principal fonte de renda da família do agricultor Aparecido Ferreira da Silva, de 39 anos. De origem humilde, Cidinho, como é conhecido, que trabalhou por anos em carvoarias na região Nordeste de Goiás, planta alface, rúcula, couve e salsinha na pequena propriedade em Mambaí, a 505 quilômetros de Goiânia. Além da variedade de hortaliças, também cultiva mamão, mandioca e pimentão para vender aos supermercados da cidade.
"As coisas melhoraram muito nos últimos meses. Não tenho do que reclamar", diz ele, com largo sorriso no rosto. A guinada positiva começou há dez meses. Ele é um dos pequenos produtores que participam do projeto Agroflorestas do Cerrado, iniciativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que ensina aos participantes como fazer uso da inteligência da floresta. Eduardo Barroso de Souza, analista ambiental do ICMBio, explica que o projeto defende uma nova técnica de agricultura. "Nossa ideia central é transformar solos escassos em solos abundantes, por meio da biodiversidade".
Barroso detalha que a nova forma de plantio vai na contramão do que tem sido feito nos últimos 30 anos no Brasil. Ao invés de desmatar ou fazer queimadas na preparação do solo, os agricultores plantam espécies variadas para alimentar a terra. Numa área de mil metros quadrados são cultivadas aproximadamente 25 espécies de plantas. Com esse novo jeito de cuidar do solo, a iniciativa pretende se tornar alternativa econômica para os agricultores e também garantir a sociobiodiversidade no Nordeste goiano.
Vanda Moura de Matos, de 34 anos, estava há quatro anos sem plantar na pequena área do sítio da família, localizada no Assentamento Cintia Peter. Agora, participando do projeto, ela, que cuida sozinha da produção, já começou a colher banana, cebola, laranja, batata doce, abacaxi, amendoim e feijão-andu. Tudo vai para a mesa da família - mora com a mãe, três filhas e um neto. "Antes, eu usava muito agrotóxico e fazia queimadas. Agora não tem nada disso", afirma. Ela espera o início do período chuvoso para plantar mudas de novas espécies.
Parceiro
O projeto Agroflorestas do Cerrado conta com a parceria de órgãos privados e públicos da esfera federal, estadual e municipal. Desde julho, a Regional Nordeste do Sebrae Goiás também apoia a iniciativa, por meio do programa Negócio Certo Rural (NCR). Vanda participa do curso ministrado em Mambaí e, conforme a produção evolua, terá condições de explorar melhor seu potencial na hora de negociar com os comerciantes da região.
O programa desenvolve, principalmente, a gestão e o empreendedorismo do produtor, com ações de diagnóstico, plano de negócio, diversificação, noções de mercado e capacitação. Quem também tem participado do NCR em Mambaí é a microempresária Yasmine de Paula Berquó, de 27 anos. Ela e o marido saíram de Goiânia há um ano para iniciar um projeto antigo do casal. Juntos fundaram o Sítio Boca do Mato, que oferece pastas, temperos, vinagres aromáticos e licores fabricados com frutos do Cerrado.
Atualmente, o casal produz oito tipos de licores, pastas de pequi, com ou sem pimenta, entre outros sabores. Os produtos são vendidos, sob encomenda, pelo Facebook (Sítio Boca do Mato). "Nosso público-alvo são os turistas, na sua maioria de Brasília (DF) e Goiânia. São produtos práticos, de uso diário e imediato", detalha Yasmine. Empolgada com o próprio negócio, ela já planeja os próximos passos: começar a fabricação de geleias e atender encomendas para cerimônias de casamento.
FONTE
Agência Sebrae de Notícias em Goiás
Itaney Gonçalves - Jornalista
Telefone: (62) 3250-2268
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