Mais de um ano depois de suspender as importações de cacau da Costa do Marfim, maior produtor e exportador global da commodity, o Ministério da Agricultura sequer iniciou a revisão da análise de risco de pragas para as cargas provenientes do país africano. A demora gera incertezas sobre o abastecimento da indústrias processadoras instaladas no Brasil, que temem uma redução da moagem em meio a um mercado consumidor doméstico em crescimento.

As importações da Costa do Marfim foram proibidas em agosto de 2012, após dois carregamentos aportarem em Ilhéus, na Bahia - onde se concentra o parque fabril brasileiro do segmento - com insetos vivos entre as amêndoas. Naquela ocasião, houve grande pressão do setor produtivo para que as compras fossem suspensas para evitar a entrada de pragas no Brasil


Agora, o diretor do Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura, Cósam Coutinho, afirmou ao Valor que não há qualquer perspectiva sobre quando as importações do país africano serão retomadas. Conforme ele, a revisão da análise de risco de pragas não começou por "uma série de razões de natureza administrativa". Coutinho disse que o ministério ainda avalia se enviará ou não uma missão à Costa do Marfim para checar as condições da produção do país.


Walter Tegani, secretário-executivo da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), que representa as principais empresas do ramo, disse que enviou na sexta-feira passada um e-mail ao secretário de Defesa Agropecuária do ministério, Rodrigo Figueiredo, pedindo uma solução rápida para o problema.


Além da Costa do Marfim, o Brasil importa cacau praticamente de apenas mais dois países: Gana e Indonésia, segundo e terceiro maiores produtores globais da amêndoa. Mas ambos não são capazes de atender a um volume maior de importação. Além disso, o cacau da Indonésia atualmente está mais caro, reflexo de uma política de tarifa de exportação "flexível" que tirou competitividade do país.


De janeiro a setembro, as importações brasileiras da matéria-prima somaram 17,01 mil toneladas, oriundas só de Gana. Em todo o ano passado, foram 54,9 mil, quase 70% mais que em 2011. E, segundo Tegani, as indústrias brasileiras neste ano precisam importar mais que em 2012, já que o processamento anual médio subiu para cerca de 240 mil toneladas e a oferta nacional está mais magra.


Na safra 2012/13 - de outubro de 2012 a setembro deste ano, em linha com o calendário internacional -, a produção alcançou 185 mil toneladas no Brasil, ante mais de 200 mil na temporada anterior, segundo a TH Consultoria e Estudos de Mercado. As projeções para a safra principal (outubro a abril) são imprecisas diante da grande incidência de doenças, como a podridão parda e a vassoura-de-bruxa.


Incertos também são os reflexos sobre o abastecimento e sobre os preços dos derivados do cacau e do chocolate. No ano passado, os produtores brasileiros de cacau afirmavam que as importações da matéria-prima foram maiores que o necessário, o que pode ser um indicativo de que os estoques atuais estão em níveis confortáveis.


Mas é difícil saber, já que ainda não há no país um levantamento oficial sobre a safra da amêndoa. Segundo Guilherme Moura, presidente da Câmara Setorial do Cacau, existe uma expectativa de que até o fim do ano a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) conclua uma estimativa do gênero. Moura é um dos que acreditam que a indústria não precisaria importar cacau neste ano diante das "sobras" das compras do ano passado.


Mas Tegani, da AIPC, afirmou que a dificuldade da indústria nacional em importar a matéria-prima da Costa do Marfim deverá afetar o processamento no país e abrirá espaço para a entrada de mais derivados e chocolates importados. E as importações de alguns desses produtos já estão em ascensão, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).


As compras no exterior de chocolate (recheado em tabletes ou barras), por exemplo, chegou a 3,7 mil toneladas de janeiro a setembro deste ano, ante 2,2 mil toneladas no mesmo período do ano passado. Os derivados de cacau e chocolates vêm de diversos países. Neste ano, destacam-se as importações de Argentina, México, Suíça, Bélgica, Itália e EUA. São produtos que chegam ao país cerca de 30% mais baratos que o produto nacional, segundo Tegani.


Mas, diferentemente do que aconteceu com chocolates e manteiga de cacau, houve redução das importações de produtos como pasta e cacau em pó.


Fonte

Valor Econômico

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