Já foram plantadas 650 mudas transgênicas em uma propriedade rural na cidade de Ibaté, interior de São Paulo.
O Brasil, maior produtor mundial de laranja e de suco, avança nas pesquisas para a produção da primeira planta transgênica resistente a pragas. Um grupo de pesquisadores comandados pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) e coordenado pelo cientista espanhol Leandro Peña - um dos pioneiros em biotecnologia de citros no mundo - iniciou este ano um teste inédito no Brasil com o cultivo de pomares de laranjeiras geneticamente modificadas.
Já foram plantadas 650 mudas transgênicas em uma propriedade rural na cidade de Ibaté (SP). Elas são derivadas de 40 borbulhas (ramos) de laranja doce importadas da Espanha, que passaram por um período de quarentena e ainda por autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).
Em dois anos e meio as plantas devem gerar as primeiras laranjas transgênicas produzidas em campo no Brasil. As frutas serão inéditas porque nas pesquisas anteriores em campo era proibido o florescimento e a frutificação da árvore, o que impedia a avaliação dos efeitos da transgenia na laranja. Foi o que ocorreu com a Alellyx, empresa de biotecnologia do Grupo Votorantim, incorporada em 2010 pela Monsanto, que deixou de pesquisar citros após a operação. No entanto, a partir de maio do ano passado a CTNBio autorizou o cultivo de plantas transgênicas com o ciclo completo.
Os pesquisadores acreditam que, por meio da modificação genética, as plantas já cultivadas no interior paulista sejam resistentes à pinta preta dos citros e ao cancro cítrico, pragas severas aos pomares brasileiros, que movimentam por ano cerca de US$$ 6,5 bilhões. Segundo o gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Fundecitrus, Antonio Juliano Ayres, ainda este ano outros pomares transgênicos serão cultivados. O primeiro na região sul de São Paulo, para avaliar os efeitos do clima mais ameno nas plantas, e outro no norte do Paraná, para testar a resistência ao cancro, já que a pesquisa com a doença em ambientes abertos é proibida nas lavouras paulistas. “Em dois anos e meio as plantas começarão a produzir “, explicou Ayres.
Os resultados finais só devem ser verificados em mais de sete anos, já que é necessário avaliar se a planta seguirá resistente à doença e com boa produtividade. Assim, as primeiras frutas transgênicas só devem ser viáveis comercialmente na próxima década. Paralelamente, o Fundecitrus realiza estudos em busca de uma variedade transgênica de laranja capaz de ser resistente ao greening, a pior praga da citricultura mundial.
No entanto, Ayres alerta que as futuras laranjeiras transgênicas não deverão ser a solução exclusiva para o fim das pragas, principalmente do greening, nos pomares. Para ele, o uso das plantas geneticamente modificadas terá de ser consorciado com o manejo dos pomares, com aplicação de inseticidas, o controle biológico das pragas, fiscalização e erradicação de plantas doentes. “É bom lembrar que pode ser possível que as pragas se tornem resistentes às plantas transgênicas. Isso acontece, por exemplo, com doenças humanas em relação aos antibióticos”, comparou.
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