Paulo Cesar Tavares de Melo, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo(USP), em Piracicaba, acaba de publicar o artigo “Olericultura brasileira: do descobrimento ao século XXI”. Escrito em parceria com Arlete Melo, pesquisadora do Instituto Agronômico (IAC) de Campinas (SP), o texto traça uma linha do tempo da olericultura (cultivo de hortaliças) brasileira da descoberta do Brasil ao presente. O artigo é derivado de uma palestra ministrada pelo professor em maio do ano passado no Instituto Superior de Agronomia (ISA) daUniversidade de Lisboa e foi publicado na edição 119 da revista daAssociação Portuguesa de Horticultura (APH), de dezembro a janeiro de 2016.
A olericultura brasileira teve início assim que as caravelas de Pedro Álvares Cabral aportaram por aqui. “Na carta de Caminha, há o registro pioneiro do consumo de hortaliças no Brasil, relatando que os tupiniquins consumiam inhame — que na verdade era a mandioca — e palmito”, comenta Tavares de Melo, professor do Departamento de Produção Vegetal da Esalq.
Além da carta de Caminha, o artigo aponta que outra documentação de relevante importância sobre a alimentação da época colonial foi legada pelo conde Maurício de Nassau. “Quando chegou a Recife, em 1637, para assumir o cargo de Governador-Geral dos domínios conquistados pela Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais no Nordeste, Maurício de Nassau trouxe o jovem pintor Albert Eckhout em sua comitiva que, em suas naturezas mortas, deixou um registro de inestimável valor histórico retratando as frutas e hortaliças cultivadas no Brasil nesse período”.
Durante o período escravagista, foram introduzidos produtos como inhame, quiabo, jiló, maxixe, melão, cachi, vinagreira, melancia, entre outras hortaliças que faziam parte da dieta dos países africanos de onde os escravos procediam. “Essas hortaliças tiveram influência marcante na formação da diversificada e rica culinária brasileira”, explicam os pesquisadores.
Sabores e hábitos
Outras passagens da nossa história, como a chegada da família real acompanhando o Rei Dom João VI em 1808, contribuíram decisivamente para a introdução de novos sabores e hábitos na dieta alimentar, especialmente do Centro-Sul. “Em vista disso, intensificaram-se o cultivo e o consumo de hortaliças no País. Até essa época, o uso de hortaliças era insignificante, participando de parte da alimentação das famílias abastadas da colônia”.
A pesquisa registra ainda a documentação sobre o estabelecimento dos açorianos no Rio Grande do Sul, tido como fator preponderante para a introdução da cultivar de cebola Garrafal, originária de Portugal. “Essa cultivar, submetida a vários ciclos de seleção empírica, originou o complexo varietal constituído pelas populações Pera Norte-Baia Periforme, formando um valioso germoplasma genuinamente brasileiro, base do melhoramento genético de cebola para as condições edafoclimáticas brasileiras”, explicam.
Segundo o professor Tavares de Melo, a Parte II desse artigo será publicada no próximo número (120) da Revista da APH (abril/maio 2016), apresentando “O século XX e a expansão da olericultura brasileira e “O negócio contemporâneo de hortaliças no Brasil”. Além disso, a aproximação com os portugueses ocorre em outra frente, na organização do I Congresso Luso-Brasileiro de Horticultura, que ocorrerá em Lisboa, no primeiro semestre de 2017. “Essa é uma parceria entre a Esalq, a Associação Portuguesa de Horticultura (APH), a Associação Brasileira de Horticultura(ABH) e o Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa. O encontro está sendo organizado pela Win Eventos, do Brasil, em parceria com uma empresa de eventos sediada em Lisboa”, conta Tavares de Melo.
Segundo os organizadores, no evento pretende se criar um fórum para todas as partes interessadas nos diferentes ramos da horticultura do Brasil e de Portugal. A iniciativa poderá desempenhar um papel chave na criação de um ambiente de encontro atrativo para os países que compõem a comunidade dos países de língua portuguesa. Espera-se conseguir tal objetivo estabelecendo diálogos participativos e através do intercâmbio de conhecimentos e experiências sobre os mais recentes avanços e inovações no âmbito tecnológico e científico da Horticultura. Saiba mais sobre o congresso clicando aqui.
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FONTE
Agência USP de Notícias
Caio Albuquerque – Jornalista