Após 20 anos plantando laranja, Manoel Rosa está deitando a enxada. Depois de ter sobrevivido à praga do amarelinho nos anos 90, doença causada pela Clorose Variegada dos Citros (CVC) que tirou o sono dos produtores no País naquela década, o citricultor hoje enfrenta o greening, ou Huanglongbing (HLB). Para combater a praga, Rosa retirou mais de 15% dos seus 17 mil pés de laranja que tem plantados em sua propriedade em Itápolis (SP). A cidade já foi o centro da citricultura paulista, mas agora é a mais afetada pela doença. Entre 2010 e 2012, 2.225 propriedades no estado deixaram de plantar laranja para dar espaço a culturas mais estáveis e com maior rentabilidade.
O greening atingiu no ano passado 6,9% das árvores plantas do parque citrícola do estado, o que corresponde a 15 milhões de pés, e 64,1% dos talhões (áreas). Em 2011, essa proporção era de 3,8% e 53,3%, respectivamente. Em 2004, quando a doença foi identificada pela Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), apenas 1% dos plantéis estava infectado. O crescimento foi rápido, mas ainda está abaixo de níveis internacionais. Na Flórida, onde a doença foi identificada antes, a incidência alcançou 30% dos pomares. "É a doença mais temida do mundo", afirma Juliano Ayres, gerente do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus). Ainda assim, a Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado, relatou que 7,2 milhões de plantas tiveram que ser arrancadas no último ano apenas por causa da doença.
A preocupação dos agricultores com o avanço do greening é maior do que com a incidência do amarelinho, que em 2012 atingiu 38,4% das árvores, segundo levantamento divulgado na semana passada pelo Fundecitrus. Apesar de ser proporcionalmente maior com relação ao greening, a ocorrência de amarelinho tem caído nos últimos anos.
"Têm sido tomadas medidas drásticas desde o primeiro ano de plantio do pacote tecnológico, com aplicação de produtos, mas ainda assim a incidência de greening está alta mesmo em pomares bem cuidados", relata o presidente do Sindicato de Ibitinga e Tabatinga, Frauzo Ruiz Sanches. O pacote que ele cita inclui a obrigação estabelecida pela CDA em 2004 de utilização de mudas desenvolvidas apenas em viveiros, isentos de qualquer tipo de doença. A pulverização é outra técnica que tem ajudado a combater as duas pragas ao mesmo tempo. Para os produtores, o gasto com a aplicação de inseticidas equivale a 8% de todos os seus custos, estima o gerente da Fundecitrus. O citricultor Manoel Rosa, por exemplo, chega a gastar R$ 50 mil ao ano, depois que aumentou a quantidade de aplicações de cinco para 24 vezes no ano.
Além do gasto para evitar a praga, os citricultores ainda têm prejuízo quando os pés são infectados. Diferentemente do amarelinho, quando um produtor identifica que sua planta está com greening, não lhe resta alternativa a não ser arrancar o pé do chão. Se ele deixar a árvore de pé, as frutas ficam mais ácidas e caem do pé mais rápido, o que pode reduzir a produtividade do pomar em até 80%. No caso de infecção por CVC, a redução do tamanho da fruta é menos drástica e continua no pé, o que reduz a produtividade em 50%, na média.
O entrave maior na citricultura paulista, porém, não é o avanço do greening em si, mas a dificuldade dos produtores em investir em técnicas de manejo e combate da doença. De acordo com o engenheiro agrônomo Valquimar Brasil, membro da Câmara Setorial da Citricultura, os produtores que não têm contrato com as indústrias processadoras de suco estão sendo mal remunerados pelo setor. Na última colheita, os agricultores receberam R$ 7 por caixa, além do complemento dado pelo governo federal de R$ 10.
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