Pesquisadores criam biofábrica de inimigos naturais para combate de pragas em morangueiros

Os funcionários da propriedade alimentam os ácaros predadores e monitoram as pragas.

O cultivo de morangos é uma atividade agrícola importante para Minas Gerais, sobretudo porque movimenta a agricultura familiar em polos de produção espalhados nas várias regiões do estado. Mas os morangos também são conhecidos como um dos vilões do uso abusivo de agrotóxicos. Sensíveis às pragas e doenças, os frutos recebem várias aplicações de defensivos químicos para chegarem vermelhos e robustos à mesa do consumidor. Na era da alimentação saudável, produtores e consumidores estão em busca de alimentos livres de agroquímicos. O trabalho de uma equipe de pesquisadores da UFV pode oferecer alternativas agroecológicas de combate às principais pragas de morangos em cultivos comerciais.

O controle biológico de pragas é uma das linhas de pesquisa mais importantes do Departamento de Entomologia da UFV. Ele consiste em utilizar inimigos naturais, que podem ser predadores ou parasitas, para combater as pragas que causam danos ao cultivo de qualquer cultura agrícola. O Departamento já tem muito conhecimento e prestígio científico nesta área, mas a maioria está em teses e dissertações que não chegam ao dia a dia das propriedades rurais. Agora, três pesquisadores do Laboratório de Acarologia da UFV criaram uma empresa de base tecnológica especializada em controle biológico, cuja missão é resolver problemas dos agricultores que demandem pesquisas e soluções para o manejo de pragas.

A Biofábrica de Inimigos Naturais está sendo chamada de Econtrole e está em fase de pré-incubação na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (IEBT), do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa (CenTev) - UFV. A empresa conta com o apoio institucional do Departamento de Entomologia porque o negócio envolve um processo contínuo de pesquisas para monitoramento e controle de pragas que podem ser diferentes para cada produtor ou região. Para começar, os três sócios, que fazem pós-doutorado na UFV, elegeram o cultivo de morangos atacados por dois tipos de ácaros: o rajado (Tetranychus urticae) e do enfezamento (Phytonemus pallidus). “Estas pragas também atacam outras plantas como tomateiros e feijoeiros, em que os inimigos naturais também podem ser usados com sucesso. Mas, por enquanto, vamos focar nas lavouras de morango”, diz Felipe Lemos, um dos sócios da Econtrole.

Durante o processo de incubação da empresa, eles testaram a metodologia de controle em uma propriedade agrícola no município de Ervália, próximo a Viçosa. “Acompanhamos uma safra de morangos comparando o controle químico com a introdução do ácaro predador Neoseiulus anonymus, um inimigo natural do ácaro praga. O controle biológico foi mais eficiente e bem mais econômico para o produtor”, afirma João Alfredo Ferreira, outro sócio da Econtrole. Os pesquisadores lembram que a economia vai além dos custos menores de produção. “Predadores naturais não contaminam a água, o solo e nem os agricultores acostumados a manusear os aplicadores de defensivos, que são nocivos à saúde. Isso sem falar na saúde do consumidor que vai ingerir alimentos sem agrotóxicos”.

Parte do trabalho da empresa consiste em criar os ácaros predadores em laboratórios e introduzi-los nos plantios de forma sustentável. “É preciso considerar as características de cada propriedade e monitorar as pragas. Em alguns casos, como nos morangos, precisamos fazer uso de alimentos alternativos para os inimigos naturais, como pólen floral, para garantir que a população de predadores se mantenha na proporção que cada lavoura necessita, mesmo quando há pouca praga”, explica Felipe Lemos.

Na propriedade do agricultor José Wanderlei Ferreira Rezende, em Ervália, o controle biológico está dando certo e a comercialização de produtos sem defensivos agrega valor aos morangos produzidos. Os funcionários da propriedade alimentam os ácaros predadores e monitoram as pragas para que o controle aconteça na medida certa sem a presença constante dos pesquisadores. “Nós oferecemos a tecnologia e acompanhamos os resultados”, diz João Alfredo. Segundo ele, o processo é simples e pode ser conduzido pelos proprietários. O próximo passo é desenvolver tecnologias de fácil aplicação para que os agricultores consigam criar minibiofábricas de inimigos naturais nas próprias fazendas, reduzindo custos de controle de pragas nas próximas safras.

Para o professor Angelo Pallini, do Departamento de Entomologia, que acompanha o processo de incubação da Econtrole, apoiando iniciativas como esta, a Universidade Federal de Viçosa está incentivando o empreendedorismo nos pesquisadores, criando novos modelos de negócios que envolvem tecnologia. “Essas empresas se dedicam a encontrar soluções ambiental e economicamente sustentáveis para problemas que afetam a economia, utilizando ferramentas científicas que foram desenvolvidas na Universidade”.

 (Léa Medeiros)

Fonte

UFV

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