O fortalecimento da agricultura familiar é um desafio assumido mundialmente por diversas instituições para que se possa oferecer aos trabalhadores do campo oportunidades de aumentar a produção e torná-la sustentável. Mas para que isso de fato possa acontecer, é preciso, principalmente, que sejam adotadas tecnologias no campo, produzindo mais, com menor custo, em menor área e de maneira a preservar o ecossistema. Em Rondônia, o desafio foi aceito.
"Quando vieram me procurar pela primeira vez eu não acreditei e não aceitei adotar tecnologias na minha propriedade. Mas depois eu pensei melhor e vi que podia dar certo. Aí abracei a causa e conseguimos muita coisa já nos últimos 11 meses. Agora posso ser modelo para os demais da região e hoje agradeço por ter aceitado o desafio", conta o produtor Rubens Rocha, de Rio Pardo, distrito de Porto Velho (RO).
Segundo Rubens, a produtividade de leite aumentou consideravelmente em sua propriedade. Antes a média das 17 vacas que possui era de 70 litros/dia, hoje ele continua com a mesma quantidade de animais, mas com uma média de 130 litros/dia, ou seja, subiu de quatro para sete litros/leite/vaca/dia. "Antes usava metade da minha propriedade com vaca leiteira e não via sobrar capim e hoje elas não comem os dois alqueires que fiz com o funcionamento dos piquetes. Além disso, minha pastagem era fraca, aí eu reformei, adubei e aumentei o número de animais por área, de quatro para oito vacas por hectare, e ainda está sobrando pasto. Então hoje posso dizer que eu acredito, recomendo e incentivo meus vizinhos a fazerem o mesmo. O caminho é a tecnologia", comenta o produtor.
O Senhor Rubens faz parte de um projeto que busca levar tecnologias ao pequeno produtor, para que ele possa aumentar sua renda e melhorar a qualidade de vida no campo. Em Porto Velho esta ação faz parte de uma parceria da Embrapa Rondônia com a Prefeitura Municipal de Porto Velho, em que a Embrapa capacita e orienta os técnicos da Secretaria de Agricultura do Município e acompanha o andamento dos trabalhos nas unidades modelos, que são propriedades de produtores que aceitaram o desafio de investir em tecnologia. A prefeitura atua com assistência técnica e subsídios.
De acordo com o médico veterinário da Embrapa Rondônia, Rhuan Lima, na propriedade do Senhor Rubens foi implantado o manejo de pastagem com piqueteamento, trabalhando com o pastejo rotacionado e também com a suplementação de cana mais ureia no período seco do ano. Nas próximas etapas serão trabalhadas a qualidade do leite, que inclui cuidados com a higiene da ordenha e controle de mastite, e práticas reprodutivas e de melhoramento genético. Ele destaca que em menos de um ano de implantação da unidade é possível constatar que tecnologias e práticas simples são viáveis. Com isso será possível difundir essas unidades modelos, em que outros produtores podem ver a tecnologia sendo adotada e funcionando, e os que se interessarem podem adotar. "É uma mudança de visão do produtor, o que é o mais importante. É a conscientização de que existem tecnologias que são acessíveis a todos e que é possível produzir mais em uma área menor e melhorar a renda do produtor. Isso impulsiona a agricultura familiar, tornando-a mais competitiva e sustentável", explica Rhuan.
E a demanda já está grande, pois os resultados surpreenderam os produtores da região. Cerca de 20 produtores da região já se interessaram e estão esperando para participarem do projeto, com a adoção de tecnologias. "Eram pessoas que, assim como eu, não acreditavam em tecnologia, aliás, achavam que tecnologia não era pra gente, pequeno produtor, mas é sim! Tá aí na minha propriedade pra quem quiser ver", desabafa Rubens, enquanto atende os cerca de 120 produtores que, com suas famílias, participaram de um dia de campo em sua propriedade para conhecer as tecnologias implantadas e comprovarem os resultados. O vizinho de Rubens e também produtor Salvador da Cruz Filho, compareceu ao evento e disse também estar seguindo os mesmo passos. Ele começou a fazer os piquetes e a rotação dos animais e disse já obter dois litros de leite a mais por vaca, depois disso.
O pesquisador da Embrapa Rondônia, Pedro Gomes, explica que os bons resultados com os piquetes são as forrageiras adotadas, pois possuem alto potencial produtivo, como é o caso do Mombaça que está sendo utilizada pelo Senhor Rubens. E, para ter um manejo adequado, é preciso dividir estes animais em piquetes para concentrar o consumo de forrageiras e obter o melhor resultado. Na propriedade modelo é feita a rotatividade de três em três dias, respeitando a altura do capim. O produtor verifica a altura do capim e, a depender da altura, ele coloca ou retira animais do piquete. "A produtividade por área de forrageiras como a Mombaça e a Tanzania chega a ser quase o dobro de outras forrageiras mais comuns utilizadas no estado, como a braquiária", diz o pesquisador.
O dia de campo fez parte da 1ª Jornada Tecnológica da Agricultura Familiar, realizada pela prefeitura de Porto Velho, em parceria com a Ceplac, Emater e Embrapa, de 13 a 17 de outubro. A ação acontece simultaneamente também nos distritos de Nova Califórnia, Extrema, União Bandeirantes, Jacy-Paraná, Calama e na capital rondoniense. Para o secretário municipal de Agricultura e Abastecimento, Leonel Bertolin, este evento oferece o que há de melhor em programas voltados para o fortalecimento da produção agrícola, a exemplo novidades tecnológicas, cursos de capacitação, oficinas, palestras, orientações sobre crédito rural e boas práticas de manejo, dentre outros. "Uma forma de fortalecer a agricultura familiar no município", conclui o secretário.
Assim como o leite, outro tema abordado em Rio Pardo foi o café, cultivado por muitos pequenos produtores da região, porém com baixa produtividade.
Aumento de produtividade com o café conilon BRS Ouro Preto
A cultivar de café conilon BRS Ouro Preto, a primeira cultivar lançada pela Embrapa e também a primeira de café conilon do Brasil a receber o Certificado de Proteção, concedido pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares, foi apresentada aos produtores de Rio Pardo durante a Jornada. Uma unidade demonstrativa da BRS Ouro Preto foi implantada na propriedade do Senhor Anuino Gomes, que também aceitou o desafio de investir em tecnologia. "Nós estamos fazendo tudo certinho e acredito que vai ser muito bom pra nós esse café, que foi feito pro nosso estado. Depois que comecei a ter o acompanhamento técnico na lavoura eu percebi que estava fazendo muitas coisas erradas e que a tecnologia que estão trazendo não é difícil da gente fazer não, dá pra fazer", fala Anuino.
A mesma expectativa tem dona Marlene Oliveira. Depois de prestar muita atenção aos benefícios da nova cultivar de café e ver na prática o manejo e a condução adequada da lavoura, ela pegou uma muda da cultivar e não largou mais. "Já vou sair com a mudinha de café daqui e plantar igual aprendi aqui. Antes eu achava que essas tecnologias eram muito difíceis, né?! Mas tudo que foi mostrado aqui a gente tem condições de fazer e melhorar nossa lavoura e nossa renda. Eu vi que é uma coisa que ajuda nós da agricultura e eu já vou plantar essa mudinha de café lá na minha roça", fala animada a produtora.
A BRS Ouro Preto foi desenvolvida pela Embrapa Rondônia em parceria com o Consórcio Pesquisa Café e tem potencial para aumentar a produtividade da cafeicultura em Rondônia, contribuindo para a sustentabilidade econômica e social de mais de 21 mil pequenas propriedades de cafeicultura no estado e poderá ter sua recomendação estendida para outras regiões da Amazônia. A produtividade média do café em Rondônia é de 16 sacas/ha, mas a nova cultivar apresenta potencial de 70 sacas beneficiadas por hectare em lavouras de sequeiro, podendo chegar a 110 sacas com irrigação.
A Embrapa, por meio do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) realizou um processo de seleção em 2013 para credenciar viveiristas para multiplicarem as mudas e comercializarem a cultivar de café conilon BRS Ouro Preto. Os viveiristas credenciados já iniciaram a multiplicação das mudas e o processo de comercialização, que deve ser intensificado em 2015.
Ano Internacional da Agricultura Familiar
A agricultura familiar foi escolhida pela Organização das Nações Unidas como temática central para 2014. No Brasil, o setor engloba 4,3 milhões de unidades produtivas (84% do total) e 14 milhões de pessoas ocupadas, o que representa em torno de 74% do total das ocupações distribuídas em 80.250.453 hectares (25% da área total). A produção que resulta da agricultura familiar se destina basicamente para as populações urbanas, locais, o que é essencial para a segurança alimentar e nutricional.
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