O ritmo da indústria de carne bovina teve que acompanhar o crescimento do consumo interno e externo. O abate de bovinos no Brasil cresceu na ordem de 81,3% nos últimos dez anos, enquanto a exportação evoluiu 61,8% no mesmo período. Os resultados fizeram com que o país passasse a ser considerado modelo para outros mercados emergentes na América Latina, como Colômbia, Honduras e Nicarágua. Existe até perspectiva para que, em breve, a produção brasileira se iguale em termos de qualidade à argentina que, junto com a uruguaia, é referência mundo afora.

Esta é a visão de Dean Gilge, vice-presidente de desenvolvimento global da CRI, uma cooperativa multinacional que se dedica à comercialização de genética bovina. Gilge esteve no Brasil ao fim de janeiro e visita regularmente o país desde 2007. Desta vez, o técnico esteve acompanhado de uma equipe da CRI, formada por Brenda Sisung, especialista em relações públicas, e Angie Kringle, coordenadora de desenvolvimento de alianças globais, além do professor Perry Kratt, do Instituto de Agricultura da Universidade do Tennessee. 

A intenção da viagem foi conhecer a cadeia produtiva brasileira para decidir detalhes sobre um encontro a ser realizado em abril em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, que reunirá pecuaristas da América Latina. O projeto será viabilizado através de um programa de subvenção do USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. “Nós buscamos entender o que é a indústria brasileira de carne bovina, desde a concepção até o consumo. Por isso visitamos supermercado, boutique de carne e frigorífico, para ver como o processo funciona”, lista Gilge.

Entre os visitantes, o consenso é que a diferença entre as indústrias de carne brasileira e norte-americana é, basicamente, advinda do gosto diverso dos consumidores. Enquanto nos Estados Unidos e em países consumidores de sua carne, como o Japão, há preferência pela carne mais gorda, priorizando a cobertura de gordura, nos trópicos a população compra carnes proporcionalmente mais magras, até mesmo por consumir porções maiores em comparação a outros países, como acontece nos churrascos por aqui.

“Aqui o sistema é muito similar ao dos EUA. Obviamente que os frigoríficos lá seguem o padrão do USDA e do FDA (órgão que regula os setores de alimentação e medicamentos). Mas nós estamos vendo que alguns produtores brasileiros estão produzindo e dizendo que têm um produto melhor do que o mercado em geral, com mais gordura entremeada e cobertura de gordura, investindo na cria para melhorar a qualidade da carcaça”, compara Gilge.

Gilge refere-se a projetos especiais voltados para a produção de carne bovina com valor agregado, que não entram na vala comum da commoditie. Foi essa a constatação feita após visitar um supermercado da capital Campo Grande e a boutique de carnes da holding MSX Group. O projeto foi inaugurado em 2008 com foco na padronização e escalabilidade da produção de animais cruzados (fêmeas Brangus) e super precoces (abatidas com até 18 meses).

Projetos como esse, segundo o norte-americano, são cada vez mais demandados quanto melhor está a economia de um país. “Mas, do outro lado, os criadores têm que controlar as condições sanitárias e a rastreabilidade. Os consumidores, quando ganham mais dinheiro, querem comer melhor, mas também saber a origem da comida e quão segura ela é”, pondera Gilge.

Perry Kratt, Daniel de Carvalho, Angie Kringle, Dean Gilge, Marcos Paula Santos, Mauro Moraes, João Carneiro e Brenda Sisung
Da esq. para a dir.: Perry Kratt, Daniel de Carvalho, Angie Kringle, Dean Gilge, Marcos Paula Santos, Mauro Moraes, João Carneiro e Brenda Sisung em visita à Est. São Geraldo, fornecedora de carnes da holding MSX Group.

Foto de picanha, Dean Gilge, João Carneiro, Marcos Paula Santos, Mauro Moraes
Dean Gilge, à esquerda, ressalta o mármore mais evidente da picanha quando comparado ao dos cortes do supermercado.

 

Genética
Por ter um rebanho grande o suficiente para oferecer produto em escala e potencial para aumentar o uso de genética nos animais, é possível que o Brasil passe a ser uma referência maior do que a Argentina a carne de qualidade. Gilge projeta que a crise econômica no país dos portenhos seja forte o bastante para enfraquecer a produção de carne bovina. “O Brasil tem sido um melhor mercado do que a Argentina para a venda de sêmen de raças de corte”, revela o norte-americano.

Com efeito, em 2012 o Brasil representou um mercado 195% maior do que o argentino em números absolutos de doses de sêmen de gado de corte comercializadas (7,4 milhões contra 2,5 milhões). Especificando as doses que foram importadas, foram 2,3 milhões de doses vindas do exterior ao Brasil contra 350 mil doses na Argentina no mesmo ano. Também o crescimento brasileiro foi mais acelerado do que o argentino. Entre 2002 e 2012, o Brasil cresceu 58% em relação a venda de doses de sêmen de raças de corte contra 21% dos argentinos, segundo dados da Asbia (Associação Brasileira de Inseminação Artificial) e da Cabia (Câmara Argentina de Biotecnologia de Reprodução e Inseminação Artificial).

Para Gilge, essa evolução se dá pelo avanço na adaptabilidade de raças taurinas, como Angus, às regiões de clima tropical. “Mais produtores estão olhando para isso. Das outras vezes que eu vim para cá, percebia que o Nelore era necessário não por produzir a carne predileta, mas por se adaptar melhor ao clima quente. O Nelore ainda é a base, mas você percebe melhor adaptação das fêmeas F1”, relembra Dean.

Encontro continental
Os norte-americanos deverão voltar ao Brasil em abril para o encontro com pecuaristas brasileiros, colombianos, hondurenhos e nicaraguenses na capital do MS, Campo Grande. “Nós temos propriedades nos Estados Unidos em que poderíamos levar pecuaristas latinoamericanos para ver Brangus em regiões quentes, mas é sempre melhor levá-los para ver isso em outros países da Améria Latina”, prefere Dean Gilge. De acordo com ele, o Brasil serve hoje de exemplo porque já não se caracteriza mais como  país emergente, mas sim pela rápida expansão da classe média. "A Argentina sempre teve a reputação melhor e o Brasil está se igualando e passando esse nível. O Brasil está apto porque tem uma economia melhor e melhor escalabilidade, por isso vai subir rapidamente", sintetiza.

Fonte

Rural Centro

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