Medicamento testado em 28.727 animais na Venezuela reduziu em 83,7% o uso de produtos químicos para controle do parasita

Marina Salles

Desenvolvida pelo Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia, sediado em Havana, Cuba, a vacina Gavac foi testada pela primeira vez em um programa a nível nacional em 2011 na Venezuela. Formulada com base no antígeno Bm-86, ela oferece proteção, principalmente, contra carrapatos bovinos. Agora, publicação inédita do periódico internacional Livestock Science, da Elsevier, traz as conclusões do estudo.

Entre os principais resultados do experimento estão a diminuição de 83,7% no uso de carrapaticidas para controle do artrópode 18 meses após o início da aplicação da vacina; aumento no intervalo entre banhos com esses produtos químicos – que passou de 12, 3 por ano para 3 – e redução de 81,5% nos custos para controle do carrapato. 

Mario Pablo Estrada Garcia, diretor de pesquisa agropecuária do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia cubano, lista outras vantagens. Segundo ele, a tecnologia colabora para aumentar o tempo de vida dos carrapaticidas, minimizando problemas com resistência, e diminui a presença de resíduos na carne e no leite dos animais. “São menos químicos sendo despejados no ambiente, menos químicos contaminando os alimentos. E, fora isso, a vacina é também uma maneira de manter o controle dos carrapatos sem alterar o equilíbrio 'enzoótico'”. O termo técnico se refere à característica de presença permanente de algumas doenças em determinadas populações.

Sobre a possibilidade de eliminar em 100% o uso de carrapaticidas com a aplicação da Gavac, Mario Pablo explica que não há como isso acontecer. “Nosso programa de controle de carrapatos inclui banhos por intensidade de infestação pelo fato de a eficiência da vacina ficar entre 50% e 90%”, diz. O dado refere-se ao controle específico do carrapato bovino, Rhipicephalus Boophilus microplus. Apesar da variância de eficiência, verificou-se queda no nível de infestação da pastagem por larvas de carrapato após o uso da vacina.

Segundo o especialista, em outros locais, onde a Gavac teve uso contínuo por mais safras, chegou-se a intervalos acima de um ano entre banhos de carrapaticida. E a busca por melhorias não para. “Estamos trabalhando agora com um novo candidato a vacina baseado numa proteína ribossômica dos carrapatos do gênero Rhipicephalusque mostrou eficiência de 96% para controle do parasita bovino”, afirma Mario Pablo. De acordo com ele, a expectativa é desenvolver a formulação em 2016 e registrar patente em Cuba entre 2017 e 2018.

A respeito da viabilidade de o Brasil importar a vacina para tratamento contínuo, o diretor de pesquisa agropecuária afirma que hoje há produção suficiente para atender uma possível demanda.

Cerca de 1,9 milhão de animais foram envolvidos no programa venezuelano, que contou com a participação de 38.835 fazendas de pequeno e médio porte, com até 70 animais. Para determinar a eficiência do produto, desse total foram selecionadas 202 propriedades de 18 estados do país, cujos 28.727 animais foram vacinados e acompanhados durante um ano e meio por uma equipe de especialistas. Eram feitas três aplicações iniciais da vacina, a 0, 4 e 7 semanas; e uma vacinação posterior a cada seis meses. O preço dos insumos e mão de obra, para cálculo da economia com o uso de carrapaticidas, foi levantado em bolívares, moeda venezuelana.

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