
A pesquisa foi realizada pelo médico veterinário Bruno de Souza Mesquita em sua dissertação de mestrado no Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) da FMVZ, sob a orientação do professor Luis Felipe de Prada e Silva. “Os bovinos precisam ganhar peso durante todo o ano, porém, no inverno, há escassez de pastagens o que atrapalha o desempenho animal. A safra da cana coincide com esse período, o que a torna excelente opção para a manutenção do desempenho animal durante o período seco”, aponta.
O veterinário explica que já existem algumas variedades de cana específicas para a nutrição animal, sendo que a principal delas, a IAC86-2480, foi a utilizada no estudo. “Um dos problemas gerais da cana é a sua baixa digestibilidade da fibra. Ela é digerida de forma mais lenta e fica mais tempo retida no rúmen, ocupando espaços que poderiam ser preenchidos por alimentos mais digestíveis. Isso causa um efeito de enchimento físico no animal e o mesmo tem a sensação de saciedade e acaba comendo menos”, diz.
Os testes foram realizados com 48 bovinos de corte nelores, não castrados, em confinamento. Antes de fornecer a dieta, foram pesquisadas 9 variedades de cana-de-açúcar e realizados testes em laboratório para avaliar as 2 variedades com maior e menor digestibilidade da fibra. As 4 variedades selecionadas foram cultivadas no campus de Pirassununga.
Os animais foram divididos em 4 grupos de 12. No primeiro, receberam dieta com 80% de concentrado mais 20% de cana de alta digestibilidade; no segundo, 60% de concentrado mais 40% de cana de alta digestibilidade; no terceiro, 80% de concentrado mais 20% de cana de baixa digestibilidade; e no quarto grupo, 60% de concentrado mais 40% de cana de baixa digestibilidade. A idade média dos bovinos foi de 20 meses.
Os animais foram avaliados diariamente quanto à análise de consumo (cálculo da diferença entre a quantidade de comida oferecida e a que sobrou no cocho). A cada 14 dias, passaram por pesagem e, ao final do experimento, foram submetidos a ultrassonografia para avaliar a qualidade da carcaça.
“Geralmente os frigoríficos pedem um mínimo de 3 milímetros (mm) de gordura de acabamento de carcaça, pois protege durante o processo de resfriamento industrial, evita o escurecimento da carne e perda da maciez, além de ajudar na qualidade futura no preparo de cortes nobres”, diz. Em todos os grupos a camada de gordura ficou acima de 3 mm, sendo de 4,6 mm no grupo alimentado com cana de alta digestibilidade.
Já o rendimento da carcaça, que na média nacional é de 52%, nos grupos alimentados com cana de alta digestibilidade foi de 52,4% e de 51,7% no grupo alimentado com a cana de baixa digestibilidade. Entende-se por carcaça o bovino abatido, sem sangue, cabeça, couro, vísceras e patas. O rendimento da carcaça é a razão entre o peso da carcaça e o peso vivo pré-abate. “Se o animal pesa 500 quilos (kg) antes do abate, e após a retirada desses itens, sua carcaça é pesada e apresenta, por exemplo, 300 kg, então se divide 300 por 500 e temos 0,6 ou 60% de rendimento. Quanto maior esse índice, melhor é o rendimento da carcaça”, explica.
O ganho de peso diário médio ficou em 1,6 kg no grupo de alta digestibilidade, chegando a 1,7 kg no grupo alimentado com 80% de concentrado. “A média nacional geral de animais terminados a pasto fica ente 0,1 kg e 0,3 kg, podendo chegar a valores negativos. Para animais terminados em confinamento é de 1,4 kg por dia.”
Outra vantagem foi quanto a receita obtida com a venda dos bovinos excluindo-se o custo da alimentação. Nos grupos alimentados com cana de alta digestibilidade esse valor foi de R$124,6 reais por animal, atingindo R$133,1 no grupo alimentado com a cana de alta digestibilidade e 80% de concentrado. Nos outros dois grupos a média foi de R$111,3.
“Se um produtor termina 100, 500 ou 1000 bovinos por ano, ele elevará sua receita em R$1.300, R$6.500 ou R$13.000, respectivamente. Todos esses resultados se tornam ainda mais interessantes se levarmos em consideração que é o efeito da qualidade da fibra da cana que está produzindo tais resultados”, destaca.
Para Mesquita, é importante que os pecuaristas percebam que toda cana-de-açúcar não é igual e que algumas são direcionadas para a alimentação animal. “Outras pesquisas devem ser realizadas tendo em vista o melhoramento genético e desenvolvimento de novas variedades de cana-de-açúcar voltadas à alimentação de bovinos”, conclui.
Imagens cedidas pelo pesquisador
Mais informações: email brs.mesquita@gmail.com, com Bruno Mesquita