O programa foi concebido por especialistas internacionais do Carbon Trust, consultoria de estímulo à economia de baixo carbono, e financiado pela Embaixada Britânica em Brasília (DF). A iniciativa teve o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento(MAPA), Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além da indústria local, instituições especializadas e ONGs.
“A cadeia da carne bovina desempenha um papel importante na economia brasileira, mas é também a maior colaboradora para o impacto do nosso país sobre as mudanças climáticas. Felizmente, existe uma série de medidas conhecidas que reduzem os impactos e emissões causados ao longo desta cadeia e, ao mesmo tempo, trazem benefícios econômicos, como o aumento de produtividade e a redução de custos energéticos em cada subsetor”, comenta João Lampreia, gerente do Carbon Trust no Brasil.
Grande parte das medidas se pagam em pouco tempo, mas não são implementadas ainda em grande escala por uma séria de entraves, como a falta de conscientização da cadeia produtiva, falta de assistência técnica e mecanismos de financiamento inadequados. “Com a colaboração de uma série de instituições brasileiras, montamos um programa para prover conscientização, financiamento e assistência técnica adequada a uma amostra da cadeia produtiva, e vamos buscar financiamento internacional para implementá-lo, a exemplo do que já fizemos em outros países”, explica Lampreia.
Quase metade das emissões
Hoje o Brasil produz mais de 10 milhões de toneladas de carne por ano, gerando mais de R$ 50 bilhões (US$ 13 bilhões) em receita. O governo pretende aumentar para 13,6 milhões de toneladas até 2020, já que este é um dos setores econômicos mais importantes do país. Embora a carne bovina seja uma das exportações mais significativas do Brasil, apenas um quinto da produção total vai para o exterior, com níveis muito elevados de consumo interno.
No entanto, apesar da sua relevância econômica, a produção de carne tem um impacto ambiental muito alto. Atualmente, a pecuária é diretamente responsável por 17% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Indiretamente, o setor também é responsável por uma grande parte do desmatamento e degradação da terra contínuos, que respondem por mais de 24% do impacto do país sobre as mudanças climáticas. A cadeia de abastecimento de carne é, portanto, responsável por mais de 40% do impacto total do Brasil sobre as mudanças climáticas.
Melhorias significativas
Para o Brasil cumprir as suas ambições nacionais e os compromissos internacionais para combater as mudanças climáticas e o desmatamento, é preciso que melhorias significativas sejam realizadas em toda a indústria. A boa notícia é que existe um enorme potencial inexplorado para alcançar este objetivo de uma forma que aumente a eficiência, produtividade e rentabilidade para as empresas brasileiras, tornando-as mais competitivas e sustentáveis.
O programa concebido pelo Carbon Trust reuniu percepções de especialistas locais e identificou as principais oportunidades em todos os cinco subsetores da cadeia de fornecimento: criação de gado, transporte de animais vivos, instalações de processamento de carne, transporte refrigerado e varejo de alimentos. A consultoria está agora tentando assegurar US$ 120 milhões em financiamento internacional e contrapartidas locais para implementar o programa que irá conscientizar empresas na cadeia da carne sobre as soluções práticas para otimizarem seus processos, além de oferecer assistência técnica e financiamento para ajudar empresas a identificar e implementar soluções.
“Nossos cálculos mostram que, com recursos da ordem de US$ 120 milhões, podemos trabalhar com amostras significativas de todos os subsetores da cadeia e gerar uma economia de US$ 1 bilhão, além de evitar emissões de pelo menos 16 milhões de toneladas de CO?. As soluções tecnológicas são conhecidas e provadas, mas ainda não são implementadas em escala. Fornecedores de gado por exemplo, podem recuperar e manejar suas pastagens adequadamente e integrar a pecuária à lavoura e florestas plantadas, permitindo que mais animais sejam criados em menos espaço e em menos tempo, facilmente dobrando a produtividade média observada no Brasil. Mais adiante na cadeia produtiva, empresas podem introduzir caminhões e rotas mais eficientes para economizar combustível, enquanto frigoríficos podem melhorar sua geração e utilização de calor para reduzir suas contas de combustíveis e eletricidade. O programa está alinhado com o comprometimento que o governo brasileiro assumiu na COP 21 em Paris, e sua abordagem poderá ser replicada para fomentar o desenvolvimento sustentável do país”, finaliza Lampreia.
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