Atenção e cuidados no manejo

Um dos temas atualmente discutidos na agricultura é o aumento do número de espécies, da população e da distribuição de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Este fenômeno já foi observado mundialmente nas áreas agrícola, e recentemente, também foi constatado na área de atuação da Cooperativa.

Todas as plantas, inclusive as plantas daninhas, apresentam naturalmente variabilidade genética em suas populações. Esta variabilidade serve de fonte inicial de resistência a um determinado fator de seleção, como um herbicida, por exemplo. A utilização sucessiva deste fator de seleção faz com que estes biótipos resistentes sejam selecionados, aumentado a sua frequência na população.

O sistema de plantio direto, amplamente difundido na nossa região, pelo não preparo do solo antes da semeadura, não mais possibilita o controle mecânico das plantas daninhas. Este controle é realizado normalmente com a aplicação de herbicidas não seletivos, sendo o glyphosate o principal herbicida utilizado para este fim. A dessecação das plantas daninhas é de grande importância para o estabelecimento de uma lavoura, visto que a emergência destas, juntamente com a cultura, provoca danos tanto na produtividade como na qualidade de grãos.

O glyphosate foi lançado mundialmente no ano de 1974 e atualmente é o herbicida de maior volume de vendas no mundo. Com a introdução comercial de culturas geneticamente modificadas resistentes a este herbicida (plantas RR), como a soja e mais recentemente o milho, o uso do glyphosate aumentou ainda mais, de maneira que, atualmente, são realizadas duas três ou até mesmo mais aplicações deste herbicida por ciclo destas culturas. A falta de rotação de modo de ação certamente é um dos fatores que mais contribuiu para a seleção de plantas daninhas resistentes a este herbicida, tão importante no manejo, principalmente no sistema de plantio direto.

Na região de atuação da Cooperativa, o azevém e a buva resistentes já são um problema instalado nos nossos campos.

O azevém (Lolium multiflorum) é uma gramínea de inverno, com ciclo anual, utilizado largamente como forrageira na região sul do Brasil. É uma planta de fácil dispersão, também encontrada como planta daninha em lavouras de trigo, soja e milho, entre outras. Plantas de azevém resistentes a glyphosate foram encontradas no Rio Grande do Sul já no ano de 2004. Na Cooperativa, utilizamos dois tipos de cultivares de azevém. Os cultivares diploides, como o Azevém Comum, por exemplo, já tem registros de resistência; os cultivares tetraploides, como o Barjumbo, ainda não tem constatada ocorrência de resistência. Atualmente, genótipos de azevém resistente a glyphosate já são encontrados praticamente em toda a região sul do país. Isto se deve principalmente a dois fatores: o comércio informal de sementes de forrageiras, prática comum entre alguns agricultores, e a polinização cruzada da espécie, que permite que o pólen de plantas resistentes viagem longas distâncias com o vento e polinizem plantas suscetíveis em outros campos, gerando sementes que darão origem a plantas resistentes. A buva (Conyza sp.) é uma espécie nativa da América do Sul, de ciclo anual, que se reproduz por sementes. Estas germinam no outono/inverno e a planta encerra seu ciclo no verão, sendo também uma planta daninha em trigo, soja e milho, entre outras culturas. Esta planta produz um elevado número de sementes, que pode chegar a 220.000 sementes viáveis por planta. Estas sementes apresentam características estruturais que conferem fácil dispersão pelo vento a longas distâncias. Plantas de buva resistentes a glyphosate foram encontradas no Rio Grande do Sul na safra 2005/2006 e, atualmente, são um grande problema na região Oeste do Paraná. Também já existem relatos de ocorrência na região dos Campos Gerais, sendo que várias áreas de soja transgênica foram observadas apresentando plantas de buva no momento de sua colheita.

A orientação da Fundação ABC para o controle de buva é que medidas sejam adotadas já na dessecação para a semeadura das áreas com as culturas de inverno, quando as plantas ainda estão no estádio inicial de desenvolvimento e tem o controle mais fácil, e que a atenção seja mantida durante o desenvolvimento destas culturas e também na dessecação para a semeadura das culturas de verão, pois o manejo de plantas em estádio de desenvolvimento adiantado tem seu controle muito mais complicado, principalmente dentro da cultura da soja.

Em áreas infestadas com plantas daninhas resistentes, deve-se adotar uma estratégia de controle de longo prazo, visto que, possivelmente, o banco de sementes destas plantas fará com que as mesmas germinem por alguns anos. Observando-se a característica de cada área, algumas práticas podem auxiliar no controle destas plantas.

O manejo apropriado de herbicidas é primordial, e deve se basear na rotação de modos de ação, respeitando-se sempre as doses e épocas de aplicação recomendadas. A aplicação dos herbicidas na época correta de acordo com o estádio da planta daninha pode definir o sucesso ou não do controle de algumas plantas. A rotação de culturas e utilização de soja e milho não resistentes a glyphosate (convencionais) nos levam a aplicação de herbicidas com diferentes modos de ação, reduzindo a pressão de seleção do glyphosate sobre as plantas daninhas. A prevenção da disseminação de sementes é outro ponto importantíssimo. A utilização de sementes certificadas/fiscalizadas e a limpeza de máquinas evitam a introdução de plantas daninhas resistentes em campos ainda isentos.

É fundamental, nos dias de hoje, que sejam adotadas estratégias a fim de se evitar ou retardar o aparecimento de plantas daninhas resistentes ao glyphosate em nossas áreas de cultivo e, se o problema já existe, devem ser adotadas medidas de controle destas plantas o mais breve possível, visto que com certeza o custo deste controle será diretamente proporcional ao nível de infestação da área.

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