Elas estão presentes nas funções na fazenda e também no setor de máquinas

POR TERESA RAQUEL BASTOS

O trabalho no meio rural tem ganhado novas personagens. Cada vez mais a presença feminina é notada como protagonista no agronegócio. No oeste da Bahia, não é diferente: durante a Bahia Farm Show, procuramos conhecer essas mulheres do campo.

Ainda é difícil encontrá-las no comando de fazendas, ao lado de seus maridos na gestão das terras, ou o gênero feminino liderando organizações de produtores. Mas isso não significa que elas não existam. Conheça quatro mulheres fortes do agronegócio baiano.
 

mulheres_agro_bahia_ida_barcelos (Foto: Teresa Raquel Bastos / Editora Globo)

Ida Barcelos – empresária do setor de máquinas agrícolas

A dura vida em Toledo, no Paraná, fez com que Ida viesse para o oeste baiano com o marido, filhos e ainda grávida da caçula, em 1986. “Éramos nós e um fusca branco. Era tudo o que tínhamos”. Na época, veio apenas para ser dona de casa, seguindo os passos do marido, que viu potencial na região.

Porém as atividades domésticas viriam em segundo plano nos anos seguintes. Após forte crise na lavoura, em 1989, Ida teve que se dedicar a um trabalho fora de casa. “Não tínhamos dinheiro nem para voltar (para o Paraná)! Foi o jeito eu começar a trabalhar fora”, contou. Começou como assistente de vendas em uma revendedora de máquinas. Lá, aprendeu bastante, mudou de emprego – dessa vez como vendedora, depois virou gerente. Nunca mais parou: trabalhou para os outros por 17 anos, até que a três anos atrás resolveu se juntar ao marido na empresa da família, a Bamagril, revendedora de máquinas e implementos agrícolas criada em 2001.

O marido sempre a apoiou a deixar as crianças em casa e ir à luta. “Até porque não havia alternativa: ou eu trabalhava ou tudo ficaria muito difícil”. Sobre o preconceito por ser mulher, explica que duas décadas atrás era complicado. “Ouvia piadinhas como ‘mulher tem que ficar em casa’, mas hoje é muito difícil ouvir algo assim. Me dei o respeito e não dei abertura para piadas, e com isso consegui me impor nesse meio masculino”. Hoje garante: ser humano é tudo igual, precisa de competência para seguir na área. “Não existe essa de sexo frágil”, contou Ida, atendendo seus clientes e dando-lhes aperto de mão mesmo com a mão direita imobilizada.

Isabel da Cunha – Presidente da Associação Baiana de Produtores de Algodão

Em uma das principais regiões de plantio de algodão do país, uma mulher lidera a associação de produtores da pluma. Seu nome ecoa na feira. “Procure a Isabel da Cunha para conversar sobre ser mulher no agronegócio”, diziam todas as pessoas para quem pedi indicações de fonte.

Dona de fazenda, é fiel compradora de máquinas agrícolas. Ela mesma é quem vai nas lojas negociar. Fora de lá, comanda a ABAPA – Associação Baiana de Produtores de Algodão, onde lida diretamente com produtores, a grande maioria homens. “Sempre fui muito respeitada. Cheguei ao posto de presidente após consquistar outras funções de grande importância na ABAPA, como ser tesoureira, vice-presidente... depois, houve votação e me colocaram na presidência. Foi um processo natural e ser mulher não influenciou em nada”.

Sua relação com o campo vem “do DNA”, como conta. Começou na fazenda da família no Rio Grande do Sul, em meio a lavouras de soja e milho. Em 1983, mudou-se para a Bahia e teve ainda mais participação nas terras da família. “Trabalhei bastante desde que cheguei. Passamos por muita dificuldade, muita penitência, mas graças a Deus conquistamos o sucesso”. Hoje, seus irmãos também estão no agronegócio, ajudando a família.

Sobre o papel da mulher no setor agropecuário, ela é enfática. “Não há discriminação. Hoje a mulher está mais participativa, mas antes era só eu. Nunca houve casos de desrespeito, sempre fui respeitada”, relata.

Hoje, almeja continuar à frente da Abapa, buscando resultados para os produtores, sejam eles homens ou mulheres.

mulheres_agro_bahia_bruna_lermer (Foto: Divulgação / Bahia Farm Show)

Bruna Lermer, sucessora na diretoria da revendedora de máquinas Agrosul

A presença de Bruna na empresa da família tem servido para aproximar o público feminino do agronegócio. Futura sucessora do pai na diretoria da Agrosul, ela conta seu trunfo para alcançar compradoras da região. “Por termos muitas mulheres na administração, conseguimos falar bem com a mulher do campo. Muitas empresas não têm esse tato, essa liberdade”.

O estímulo de trabalhar na área vem do pai, que sempre viveu cercado de mulheres fortes. Bruna conta que nunca foi reprimida a se envolver com o agro. “Ser mulher  nunca foi impedimento para trabalhar com meu pai, ele nunca me criou para ser dona de casa”.

Hoje, Bruna passa cerca de um ano em casa setor da empresa para compreender seu funcionamento e, em breve, assumir a liderança no lugar do pai. Ela também se envolve diretamente na propriedade da família, atuando na parte documental, especialmente na regulamentação ambiental, utilizando o conhecimento adquirido no curso de direito feito em São Paulo. Questionada sobre o porquê de não ter feito um curso voltado para as ciências agronômicas, ela enfatiza o desejo de sair um pouco do seu mundo para experimentar coisas novas. “Apesar de ter voltado e trabalhado com agronegócio, foi importante minha formação em algo diferente, que também pode ser aproveitado na fazenda”.

Sobre preconceito, afirma que “há tempos não ouve”, mas que já ouviu algumas frases. Uma delas envolveu seu irmão, de apenas 12 anos. Quando ele nasceu, ela teve que ouvir alguém dizer que “ainda bem que tem um filho homem para tocar o negócio”. Mas isso não deve acontecer tão cedo: é a Bruna quem vai ficar no comando, engrossando o grupo de mulheres fortes do agronegócio no oeste da Bahia.

mulheres_agro_bahia_carça_pegoraro (Foto: Teresa Raquel Bastos / Editora Globo)

Carla Pegoraro – proprietária e agrônoma das Fazends Erechim e Bonanza

Por mais que o interesse de uma mulher em estar à frente de uma fazenda fosse algo comum na casa de Carla, para quem via de fora isso era um “absurdo”. Desde sempre alimentou uma admiração e entusiasmo pelas atividades do campo, mas só pode intensificar quando mudou-se do Paraná para a Bahia em 1999. Essa postura de liderança assustou alguns homens. “O pessoal da região achava estranho meu pai confiar a fazenda a uma mulher, especialmente por eu ser solteira”. Mas isso nunca foi um obstáculo, já que seu pai sempre a incentivava.

As brincadeiras sempre existiram, mas ela garante que há tempos não escuta uma gracinha por ser mulher. Ela se formou em agronomia para poder ajudar a família e atender seus interesses. “Já ouvi que agronomia não era área para mulher, mas não fico chateada com essas brincadeiras. Tento não dar bola”.

Para ela, ser mulher é justamente um diferencial no meio das atividades da fazenda. “Acho que consigo atuar melhor na parte técnica e de recursos humanos. É uma forma mais delicada de lidar”, explica. Ela fala também que o preconceito diminuiu, mas que a área ainda tem poucas mulheres. “Não tenho muitas mulheres para conversar”, finaliza.

Fonte

Revista Globo Rural



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