O dólar atingiu o pico de 2,30 reais no dia 1º de agosto de 2013, o maior valor desde 21 de março de 2009. A moeda americana mais cara e o consequente aumento do preço de produtos importados devem gerar pressão sobre a inflação, que já está acima da meta do governo. Por outro lado, a alta deve ajudar a melhorar a balança comercial, que somou um déficit de quase 5 bilhões de dólares nos sete primeiros meses deste ano.
Para especialistas, a alta do dólar tem principalmente a ver com fatores externos, como a melhora do panorama econômico dos Estados Unidos, que têm tido um crescimento modesto, porém, constante -- cresceu 1,7% no primeiro trimestre de 2013. O crescimento maior que o esperado faz com que investimentos, antes focados no Brasil e outros países emergentes, fujam para os EUA por conta do baixo risco e da alta lucratividade da economia.
Se o bem-estar da economia americana se mantiver, a tendência do real é continuar se depreciando nos próximos meses. No dia 31 de julho, o
Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) anunciou que vai seguir comprando 85 bilhões de dólares em títulos hipotecários e dívida do tesouro por mês, para dar força a uma economia fragilizada por conta de medidas de austeridade fiscal e pelo fraco crescimento econômico internacional.
"Muito dinheiro que estava na bolsa de valores, em títulos públicos e privados, saiu do Brasil e foi buscar outra região onde pudesse ter lucro razoável e compatível com o baixo risco da economia americana", afirma Celso Grisi, professor de economia da
Fundação Instituto de Administração (FIA). Com isso, moedas como o real, o euro e o iêne se desvalorizaram em relação ao dólar.
Produtos mais carosA alta do dólar é um dos complicadores que o governo tem que domar para manter a taxa da inflação em baixa, já que a desvalorização do real impacta negativamente o consumo, uma vez que produtos importados e cotados em dólar, como os combustíveis, chegam mais caros para o consumidor final. E, desta forma, o aumento de preços cria pressão sobre a inflação -- que já está acima da meta de 4,5% estipulada pelo governo federal.
"Deixar o real valorizado é positivo para os brasileiros, pois aumenta-se o poder de compra e facilita viagens ao exterior. Mas quando o real perde valor, perde-se também o poder de compra, já que os produtos importados ficam mais caros", frisa o economista Antonio Carlos Alves dos Santos, da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "Você continua recebendo o mesmo salário, mas ele compra uma quantidade menor de bens, já que o custo de produção destes bens está mais caro devido à alteração da taxa de câmbio."
Apesar da desvalorização do real melhorar a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, especialistas dizem que a demanda internacional, atualmente em baixa, também é um fator importante. A retomada do mercado dos EUA com maior rapidez do que o europeu e a desaceleração da China são pontos que pesam negativamente.
"O comportamento das exportações vai depender, sobretudo, mais da demanda global do que da questão cambial brasileira", diz o economista Fernando Sarti, da
Universidade Estadual de Campinas(Unicamp). "É verdade que a desvalorização do real torna as importações mais caras e há pressão sobre a inflação. Por outro lado, o próprio cenário internacional e a desaceleração da China têm contribuído para a queda significativa do preço das commodities e, dessa forma, elas devem reduzir seu preço também. É um jogo de forças, cada uma jogando em direção oposta."
Commodities complicam cenário
A desvalorização do real deve ajudar favoravelmente a balança comercial. O governo federal divulgou no dia 1º de agosto que a diferença entre importações e exportações registrou um déficit de 4,9 bilhões de dólares de janeiro a julho deste ano -- o pior saldo do comércio exterior do Brasil acumulado nos sete primeiros meses do ano desde 1993.
A conta do comércio internacional brasileiro não era deficitária neste mesmo período desde 1999, quando houve um saldo negativo de 578 milhões de dólares. Entre os principais motivos estão a queda da exportação de petróleo pela
Petrobras e, por sua vez, a compra de petróleo e derivados de outros países.
A queda no preço de commodities como minério de ferro, açúcar e etanol tornou o panorama ainda mais difícil. No mês passado, o preço desses produtos chegou ao menor patamar de 2013. Mesmo assim, o governo federal acredita que o Brasil terá um saldo positivo na balança comercial em 2013 por conta, especialmente, de uma possível recuperação de produção da
Petrobras e da desvalorização do real.
FONTEDeutsche WelleAutoria Fernando Caulyt
Edição Rafael Plaisant