O diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, João Marcelo Itini, explica que a redução verificada está ligada à produção de soja. “O desempenho da lavoura foi abaixo do que se imaginava em algumas regiões, parte por excesso hídrico na região centro-sul. E agora o desempenho vegetativo na safra na região do Matopiba [Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia] ainda está começando ou nem começou; o calendário está tardio, o deficit hídrico é evidente, então temos que adequar a produção a esse cenário”, disse. A região de Matopiba é caracterizada pela expansão de uma fronteira agrícola baseada em tecnologias modernas de alta produtividade. A contribuição da região para a produção do país chega a 8%.
Marcelo Itini explica, entretanto, que a curva decrescente na produção era esperada e que a tendência de anos anteriores é que ela volte a crescer nos próximos levantamentos. “O espaço para fazer a verificação crescente dessa curva está no Matopiba, portanto vamos acompanhar o desempenho das lavouras lá porque essa contribuição de 8% é muito expressiva”, disse.
Mudanças climáticas
O presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Lopes, destacou que, à medida que o Brasil passou a fazer plantios durante todo o ano, o tema clima e agricultura ganhou mais relevância. “[Adotamos] modelo de agricultura mais resiliente para fazer frente as mudanças climáticas, que tendem a se acentuar.”
Para Lopes, variedade de cultivares de ciclo curto e práticas de cultivo conservacionistas, como o plantio direto, ajudaram o Brasil a manter a produtividade. Ele destaca ainda os sistemas integrados. “Nós acreditamos que esse se tornará o paradigma da agricultura no Brasil no futuro, integrar sistemas, ter lavoura-pecuária ou lavoura-pecuária-floresta. É um caminho poderoso para o Brasil incorporar ao sistema produtivo as grandes área de pastos degradados que nós ainda temos”, ressaltou.
O aumento da temperatura global, para o presidente da Embrapa, não significa a inviabilidade dos cultivos no Brasil, pois a ciência vem aprimorando os sistemas produtivos. “O Matopiba é um exemplo. O Cerrado do Matopiba não é mesmo Cerrado do Brasil central, ele já caminha na direção do Semiárido. A pesquisa está estudando aquela região com cuidado, para gerar informação e nos permitir desenvolver sistemas produtivos adaptados àqueles desafios. Isso só foi possível em função da ciência, de políticas pública e do empreendedorismo dos nossos produtores”, disse Lopes.
Grãos
Segundo o levantamento da Conab, a produção de soja deve atingir 99 milhões de toneladas, 2,9 milhões a mais do que na safra anterior. O aumento foi possível por causa dos ganhos de área plantada de 3,2% ou 1 milhão de hectares.
Já o milho chegará a 84,7 milhões de toneladas, semelhante à produção de 2014/2015. A previsão para o milho primeira safra é de redução de 8,5% na produção, com estimativa de 27,5 milhões de toneladas, enquanto para o segunda safra a expectativa é de crescimento de 4,7%, devendo atingir 57,1 milhões e compensando a quebra do anterior.
Segundo a Conab, o feijão primeira safra recuperou a produtividade, o que deve se refletir em um aumento de 62,6 mil toneladas. A previsão é de um total de 1,2 milhão de toneladas contra 1,1 milhão da última safra, apesar da queda de 3,8% na área plantada, que deve alcançar 1 milhão de hectares.
No caso do arroz, há expectativa de queda de 10,2% na produção, em razão de uma área menor de plantio e a adversidades climáticas no Sul do país. As 12,4 milhões de toneladas de 2014/2015 caíram para 11,2 milhões nesta safra.
A área plantada prevista é 58,5 milhões de hectares. O espaço ocupado pelas principais culturas é 0,8% maior que o da safra 2014/2015, um aumento de 464,4 mil hectares sobre as 57,9 milhões anteriores. A soja é a cultura que garante mais de 56% da área cultivada do país.
A pesquisa da Conab foi realizada entre os dias 13 e 19 de março de 2016.
IBGE
Ontem (07/04/16), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgou a estimativa para a safra de grãos. De acordo com a entidade, serão colhidos 210 milhões de toneladas, resultado 0,2% superior ao de 2015. A diferença entre os dados divulgados pelo IBGE e pela Conab se deve aos períodos avaliados. O instituto analisa a colheita de janeiro a dezembro, enquanto a Conab se baseia no ano-safra, que vai de agosto a julho do ano seguinte.
FONTE
Agência Brasil
Andreia Verdélio — Repórter
Talita Cavalcante – Edição