As compras de fertilizantes cresceram, as de máquinas agrícolas também. A estrutura das propriedades rurais foi ampliada, a qualidade das sementes utilizadas nas lavouras e a produtividade melhoraram. Esses são alguns dos reflexos que a alta dos preços das principais commodities agrícolas produzidas pelo País, ocorrida a partir de metade da década passada, trouxe para o campo brasileiro. As cotações da soja e do milho começaram a galgar reais acima na época e atualmente estão em um patamar no mínimo 100% maior.


"No ano passado [2013] as vendas de colheitadeiras e de tratores cresceram muito, também de defensivos, fertilizantes. O padrão tecnológico cresceu bastante", afirma o diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Antonio Pinazza. De acordo com ele, o produtor brasileiro ainda está capitalizado, em função do aumento dos preços das commodities agrícolas, e o campo passa por um momento muito favorável.

O diretor do Departamento de Economia Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Wilson Vaz de Araújo, cita, além da incorporação de tecnologia e fertilizantes, o investimento em estrutura de armazenagem e capacidade de gestão no campo como consequências da alta dos preços dos produtos agrícolas. Os processos mais modernos, segundo ele, permitiram aumento da produtividade e por consequência da produção.

O maior investimento em fertilizantes pode ser verificado nas estatísticas do segmento. As entregas de adubos no mercado brasileiro, que eram de 20,1 milhões de toneladas em 2005, passaram para 31 milhões no ano passado, de acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). O faturamento da indústria brasileira de máquinas e implementos agrícolas saiu de US$ 5,9 bilhões em 2008 para US$ 13,1 bilhões em 2013, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

A vida no interior

De acordo com Araujo, do MAPA, em regiões onde a agricultura é forte o novo patamar de preços das commodities agrícolas se refletiu na qualidade de vida, no setor financeiro, no comércio, entre os fornecedores de insumos e até mesmo na educação. Sobre isso conta Afrânio Cesar Migliari, secretário da Agricultura e Meio Ambiente de Sorriso, município de Mato Grosso, considerado a capital nacional do agronegócio. "Melhorou a qualidade de vida no interior, em cidades voltadas ao agronegócio", afirma Migliari.

Região produtores de soja e milho, como Lucas do Rio Verde, Nova Mutum e Princesa do Leste, hoje têm melhores condições de vida. "Há veículos novos, caminhões novos, entrada de veículos importados", conta Migliari. A construção civil em Sorriso é pujante, segundo ele, e há uma série de lançamentos de loteamentos urbanos, condomínios fechados de alto valor. "O estado mudou muito nos últimos dez anos", afirma sobre Mato Grosso.

A renda maior que chegou ao campo se reflete no estado de Mato Grosso não apenas na vida pessoal dos produtores, segundo Migliari, mas também na própria atividade agrícola, na estrutura das fazendas, no investimento em sementes e adubação de mais qualidade, máquinas mais modernas, na compra de aviões, tratores, plantadeiras e colheitadeiras novas. E a aquisição da tecnologia mais moderna ajudou o estado, inclusive, a melhorar um dos seus gargalos, que é a mão de obra para o campo. Sorriso planta 660 mil hectares por ano com soja e 440 mil hectares com milho, cultura que era considerada secundária no município até começar a remunerar melhor os produtores e passar a receber investimentos.

A alta da soja e do milho

Entre os fatores que levaram o milho e a soja a esse novo patamar de preços estão a demanda asiática por grãos e a decisão dos Estados Unidos de fabricar etanol a partir do milho. "A China importava dois milhões de toneladas de grãos no ano 2000, hoje importa entre 65 e 70 milhões de toneladas. E o Brasil ocupa um espaço enorme neste mercado", afirma Pinazza. A especulação no mercado de commodities em geral, o que inclui também produtos não agrícolas como o petróleo, também favoreceu o aumento dos preços, segundo o diretor.

O diretor do Departamento de Economia Agrícola do Ministério da Agricultura ressalta o comportamento das cotações principalmente depois de 2009. "Os preços de maneira geral foram bastante remuneradores", afirma ele, citando como fatores o aumento da renda e a urbanização em países em desenvolvimento, principalmente os asiáticos. Araújo acredita que o mercado de grãos seguirá aquecido. "Os preços dos produtos agrícolas mudaram de patamar. Pode haver alguma flutuação, mas eles seguirão neste novo patamar", diz ele.

FONTE
Agência de Notícias Brasil-Árabe

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