Parecia não haver saída para que a ex-senadora e candidata à Presidência da República nas últimas eleições Marina Silva pudesse novamente participar de uma chapa majoritária. Com o registro negado pela Justiça Eleitoral, a Rede Sustentabilidade, criada por ela, ficaria de fora da disputa deste ano. A parceria foi encarada com surpresa por muitos, mas a dupla não perdeu tempo para explicar o que chama de "aliança programática": um "encontro de sonhos e de propostas" para "combater e superar o atraso da política brasileira", nas palavras de Marina. "Não se trata de um encontro episódico com o povo, no momento estrito da eleição", diz o texto do Programa de Governo da Aliança PSB-Rede.

O estranhamento de alguns setores da política apontava para a aparente incompatibilidade de ideais verdes - sustentados por Marina - e, por exemplo, ligações do PSB com o agronegócio. No texto do programa, a atividade agropecuária é apresentada como essencial e responsável por alimentar o mercado interno e externo, mas que deve ser pensada pela ótica do desenvolvimento sustentável.

"A consolidação de um modelo de ocupação de grandes áreas e concentração em poucas culturas, pelo agronegócio, propicia ganhos de produtividade consistentes, mas gera impactos de ordem social e ambiental que precisam ser superados", diz o documento. "Nós precisamos simplificar o Brasil, aproximar o Estado da sociedade. Rever os processos produtivos", disse Campos no lançamento da plataforma.

Prioridades da parceria

Dividido em cinco grandes prioridades, o programa coloca a superação da desigualdade por meio de uma "revolução na educação" e "radical integração das políticas públicas" como um dos principais focos da proposta de governo.

O primeiro grande tema inclui projetos de reforma política e de gestão pública, como o fim da exigência de que políticos sejam filiados a partidos para disputar cargos eletivos, fim da reeleição e mais investimento em tecnologias de defesa nacional.

O segundo eixo trata da economia para o desenvolvimento sustentável e inclui incentivo às agências de pesquisa e inovação, formação de mais profissionais de carreiras técnicas como engenharia e apoio do uso sustentável da biodiversidade nacional.

Mas não tardou para que surgisse um plano B: uma aliança com Eduardo Campos, presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e governador de Pernambuco. Ele sairia como candidato, podendo ter Marina como vice. A coligação lançou diretrizes para o programa de governo na semana passada.

Esse ponto também prevê a criação do Sistema Nacional de Economia Solidária para incentivar a criação de cooperativas, associações, bancos solidários e programas de incentivo ao consumo responsável, entre outros. Há, também, menção a uma maior utilização de fontes de energia renovável e incentivos econômicos para atividades sustentáveis e serviços socioambientais.

No eixo educação, cultura e inovação, as propostas incluem erradicação do analfabetismo, democratização do acesso ao ensino superior público, promoção da educação integral, reforço das políticas de igualdade racial e a construção do Sistema Nacional de Educação, que distribuiria as responsabilidades dos agentes públicos.

Nos dois últimos pontos, o programa propõe fortalecer os programas de distribuição de renda, aumentar gastos públicos com saúde e desenvolver ações para acabar com os lixões nas cidades.

Defensora da agenda verde

Para colocarem em prática as propostas, Marina e Campos terão que unir as experiências adquiridas de cada lado. Marina já tem experiência em disputa presidencial, já foi ministra, senadora, deputada estadual e vereadora. Natural de Breu Velho, no Acre, foi alfabetizada já adolescente e cursou história. Atuou junto ao seringueiro Chico Mendes e, em 1984, participou da fundação daCentral Única dos Trabalhadores (CUT).

Quando foi ministra do Meio Ambiente no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2008), Marina ganhou visibilidade dentro e fora do país. Ela manteve-se ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT) até 2009, quando deixou a legenda e se filiou ao Partido Verde.

No ano seguinte, apresentou-se como candidata presidencial. As redes sociais foram a principal plataforma da candidata, que acabou em terceiro lugar, como 19,3% dos votos (cerca de 20 milhões de apoiadores).

Herdeiro de Arraes

Ao contrário de Marina, Campos já nasceu no meio político. Neto de Miguel Arraes (político de esquerda que acabou exilado durante a ditadura e governou Pernambuco por três mandatos), Campos cursou economia e, logo após a graduação, participou da campanha do avô para governador. Filiou-se ao PSB em 1990 e exerceu mandato de deputado estadual e cargos na administração pernambucana. Foi três vezes deputado federal e depois ministro de Ciência e Tecnologia, durante o governo Lula (2004-2005).

Campos governa Pernambuco desde 2007. Foi reeleito com 82% dos votos em 2011. Um dos programas de sua gestão com maior expressão é o Pacto Pela Vida, programa de segurança pública que, segundo estatísticas oficiais, diminuiu os índices de violência no Estado.

Para preparar o caminho rumo ao Palácio do Planalto, anunciou a saída do PSB da base do governo em setembro do ano passado, o que foi visto pelo PT como ato de "ingratidão".

Nome forte no Nordeste, Campos tem pela frente o desafio de se mostrar aos eleitores de outros estados mais ao sul, caso tenha seu nome confirmado como candidato.

Observadores internacionais afirmam que Campos tem características que poderiam agradar a uma ampla parcela da população brasileira, já que ele une posturas suficientemente à esquerda para dialogar com as camadas mais pobres, mas também é um político convencido das vantagens do livre comércio. Ao mesmo tempo em que critica ações da presidente Dilma Rousseff, Campos não promete grandes mudanças na política.

Por outro lado, essas qualidades poderiam ser uma pedra no sapato de Campos, já que, para alguns analistas, ele tenta agradar a todos.

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