Nenhuma análise sobre os fundamentos de oferta e demanda do agronegócio internacional considera a China como uma variável irrelevante. Com 10% de participação no valor das importações globais do setor, qualquer movimento da nação asiática assume um papel determinante na formação de preços e na definição das estratégias de produção e venda dos produtos agropecuários. Isso ajuda a explicar oscilações como a ocorrida há duas semanas, quando as cotações da soja despencaram ao pior patamar em mais de seis anos devido à instabilidade no mercado financeiro chinês.
A influência do país começou a ganhar força em 2001, com a adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC). Desde então, a combinação de uma população de 1,3 bilhão de pessoas aliada a um crescimento econômico sequencial na ordem de dois dígitos fez da nação asiática uma das bases de sustentação da economia global.
O agronegócio pegou carona nesse processo, em um cenário que ajudou a dinamizar economias emergentes como a do Brasil. Hoje mais de 70% da renda brasileira obtida com a exportação de soja provêm daquela porção do globo. Com domínio menor, algodão (24,5%), açúcar (9,3%) e carne de frango (7,5%) também consolidaram faturamento vinculado ao país no ano passado.
Acostumado a lidar com um mercado de demanda crescente, o agro é forçado agora a se adaptar à nova realidade chinesa. O governo está conduzindo a economia nacional para um modelo de crescimento que prioriza o mercado interno em detrimento a exportação. A mudança custa caro: o Produto Interno Bruto (PIB) chinês crescerá menos e os investimentos tendem a esfriar, afetando a demanda por importações. A correção de rumo gera incerteza, em um movimento potencializado pela atual bolha acionária que assola o país, intensificando a pressão nos mercados internacionais.
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