Mariana Segala

Enquanto o mercado, no geral, encontrou em 2013 um ano de desaceleração das captações no mercado externo, as empresas do agronegócio partiram para o ataque

Enquanto o mercado, no geral, encontrou em 2013 um ano de desaceleração das captações no mercado externo, as empresas do agronegócio partiram para o ataque. O volume de emissões internacionais do setor atingiu US$ 6,4 bilhões durante o ano, mais que o dobro dos US$ 2,6 bilhões de 2012, de acordo com informações compiladas pelo Valor Data. Puxadas pelas empresas do segmento de proteína animal, com JBS e Marfrig fazendo operações bilionárias, as captações prometem seguir firmes neste ano, ainda que os mercados globais se vejam às voltas com as instabilidades políticas no continente europeu e com as dúvidas persistentes quanto ao crescimento dos países emergentes. 

"O mercado está receptivo. O volume de emissões em euros já se aproxima de € 70 bilhões, enquanto na mesma época de 2013 não passava de € 45 bilhões", diz Gustavo Miwa, superintendente do Bradesco BBI. Primeiro, quem aproveitou esse cenário foram as empresas com grau de investimento. "Mas agora os investidores estão se voltando para as companhias ’high yield’, onde se encaixam muitos representantes do agronegócio brasileiro". Aproximadamente 32% do volume de bônus emitidos no mercado internacional em operações intermediadas pelo Bradesco BBI em 2013 foram de empresas do agronegócio. 

São denominadas "high yield" as captações de companhias que, embora possuam bom histórico de crédito, não têm grau de investimento e, por isso, pagam retorno mais elevado ao investidor. Neste ano, o mercado de "high yield" foi aberto por uma empresa do agronegócio. Em meados de março, a Marfrig concluiu a captação de US$ 275 milhões em notas com vencimento em 2020, uma emissão com forte demanda de investidores, em especial americanos e europeus. Foi a reabertura de um programa de notas lançado em 2010, quando a empresa ofereceu juros de 9,75% ao ano. 

"Desta vez, abrimos e fechamos o book de ofertas em cinco horas, com uma demanda quatro vezes maior do que efetivamente captamos", explica Ricardo Florence dos Santos, vice-presidente de finanças e diretor de relações com investidores da Marfrig. Com investidores de sobra, foi possível baixar a taxa de juros, que fechou em 9,43%, abaixo do estimado originalmente. Seguindo a operação bem sucedida de Marfrig, rumores dão conta de que o frigorífico Minerva também estaria se preparando para acessar o mercado externo nas próximas semanas. 

Usualmente, o mercado de "high yield" abre mais cedo - e não apenas em março, como foi o caso nesse ano. "Houve muita pressão em função de emissões muito grandes de empresas como a Petrobras e também do BNDES. As operações eram esperadas para 2013, mas atrasaram e acabaram tomando o espaço das menores nesse início de 2014", diz Miwa. 

Por isso, para o agronegócio, é hora de mostrar a cara - o que deve ser mais fácil para as empresas do segmento de proteína animal. A desvalorização do real frente ao dólar em 2013 foi boa notícia para os exportadores de carne. Com resultados mais robustos, aliados ao fato de que muitos frigoríficos já são velhos conhecidos do mercado internacional, essas empresas se saíram bem nas emissões do ano passado. A expectativa é de que o cenário se repita neste ano. "Essas empresas devem continuar aproveitando as oportunidades que tiverem para alongar suas dívidas ou reduzir o custo delas", avalia Erick Rodrigues, analista do setor de agronegócio da agência de classificação de risco Moody’s. Foi exatamente esse o objetivo da emissão de março da Marfrig. 

No segmento de açúcar e álcool, a situação é menos confortável. A desvalorização do real ajudou, mas a queda dos preços do açúcar desde 2012 tem sido mais forte. "Há muitas empresas alavancadas e com dívidas concentradas no curto prazo, o que amplia a sua percepção de risco", explica Rodrigues. Em 2013, empresas como Cosan, Tonon Bioenergia e Aralco realizaram captações no mercado internacional. Menos de um ano depois de emitir US$ 250 milhões em bônus, a Aralco se viu obrigada a pedir recuperação judicial.

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CNA-SENAR

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