No governo, ex-ministro viu despontar uma espécie de feijão que mudaria o campo

A ditadura militar ainda estava em seu início quando o então presidente do Banco do Brasil, Nestor Jost, apresentou ao ministro Delfim Netto uma "espécie" de feijão que começava a ganhar terreno no Rio Grande do Sul



A ditadura militar ainda estava em seu início quando o então presidente do Banco do Brasil, Nestor Jost, apresentou ao ministro Delfim Netto uma "espécie" de feijão que começava a ganhar terreno no Rio Grande do Sul. Era um tal de "o soja", cuja colheita somava menos de 1 milhão de toneladas em meados da década de 1960.

Naqueles idos, o café era o carro-chefe da agricultura brasileira e um dos principais responsáveis por trazer divisas externas para a economia nacional. Em 1965, as exportações de café renderam ao país US$ 706,5 milhões, o equivalente a 44,6% de todas as exportações do Brasil, conforme os dados da publicação "Estatísticas do Século XX", do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Um dia, o doutor Nestor Jost chegou e disse: Delfim, lá no Rio Grande do Sul apareceu um tal de o soja. Temos sucesso e já produzimos 300 mil toneladas", conta Delfim. Começava ali uma revolução na agricultura nacional que faria do café mero coadjuvante.

A partir da criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 1973, houve um salto tecnológico que adaptou a produção de soja ao Centro-Oeste do país. "Partindo do nada, o Brasil descobriu a soja e produziu, em cinco ou seis anos, seis milhões de toneladas", afirma o ex-ministro.

De fato, a colheita nacional de soja teve um expressivo aumento, passando de 1,056 milhão de toneladas em 1969 para 7,8 milhões de toneladas em 1974, conforme os dados do IBGE. Com o avanço da colonização agrícola do Centro-Oeste esse número só fez aumentar, chegando a 15,1 milhões de toneladas em 1980.

"Era um outro momento, um outro instante. O país estava investindo para burro, construindo portos, estradas, permitindo que as pessoas invadissem, vendessem um pedaço de terra no Rio Grande do Sul e fossem comprar um grande pedado de terra em Mato Grosso. O país estava importando a gauchada para produzir", lembra Delfim.

A bem-sucedida incursão da agricultura no Centro-Oeste brasileiro ajudou a soja a desbancar o café do posto de carro-chefe do agronegócio. Conforme a mais recente estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a soja será responsável por R$ 83,2 bilhões, ou quase 20% dos R$ 422,7 bilhões do Valor Bruto da Produção Agropecuária em 2013.

Dos anos 1960 para cá, a produção de soja cresceu mais de 80 vezes. Na safra 2012/13, cuja colheita se encerrou oficialmente em junho, a produção totalizou 81,4 milhões de toneladas, segundo projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A oleaginosa é também bastante relevante para as exportações da economia brasileira. No ano passado, o chamado complexo soja - que inclui soja em grão, farelo e óleo - rendeu US$ 24,1 bilhões, o equivalente a 10% das vendas externas do país. Na pauta brasileira de exportações, o complexo soja só perdeu para minério de ferro e petróleo, de acordo com os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Para além da produção de soja, o agronegócio brasileiro é hoje bem mais diversificado do que na primeira metade do século XX. Além de ainda dominar o comércio mundial de café, o Brasil hoje lidera as exportações globais de soja, carne bovina, de frango, suco de laranja e açúcar.

Fonte

CNA-SENAR

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